O Bom Senso no Terras do Ave

* Aqui encontra os artigos publicados no jornal vilacondense, Terras do Ave, escritos pelos autores d' O Bom Senso: Luís Soares e Nuno Miguel Santos*

Os textos são aqui publicados duas semanas após a sua publicação no jornal.

O Bom Senso

Jornal Terras do Ave

Publicado no Jornal de

15 agosto, 2007

Deixar a Economia Respirar

A adopção do modelo “flexisegurança” no mercado de trabalho português, com base no que foi implementado em alguns países nórdicos, suscita várias questões relacionadas com a nossa cultura e com a própria dimensão / actuação do Estado na economia. Na Dinamarca (um dos primeiros países a desenvolver este modelo), por exemplo, não há um mercado de trabalho puro; os impostos são muito elevados (mais de 60% do rendimento per capita). Assim, a base da segurança social não é a empresa, mas sim o Estado. Os indivíduos estão dependentes do Estado para assegurar os seus rendimentos sociais.

A flexibilidade na mudança de emprego é bastante elevada. Um terço da força de trabalho troca de trabalho em cada ano. Mas isto é uma tradição na Dinamarca, o que significa que as pessoas estão predispostas a isto, algo que não acontece em Portugal e que não pode ser mudado por leis, mas sim, pela educação e cultura das pessoas.

Os dinamarqueses olham para as pessoas que saem dos seus trabalhos, procurando perceber porquê para voltar a inseri-los nesse mercado. Os desempregados, por outro lado, são obrigados a aceitar a formação e as oportunidades que lhes são oferecidas: algo que é “aplicado” em Portugal.

A Dinamarca combina, assim, liberalismo com um forte Estado. A sua força resulta dos impostos, pelo que deixa as empresas trabalharem livremente. Isto favorece o investimento estrangeiro e nacional, criando postos de trabalho com regularidade e assegurando salários mundialmente competitivos (que permitem a grande contribuição para impostos sem afectar gravemente o poder de compra dos consumidores).

Note-se que na altura da primeira crise de petróleo (início dos anos 70) foi adoptado um sistema de poupança de energia para que a crise não voltasse a afectar o país: apostaram na produção de gás e petróleo. As exportações de tais produtos duplicou, mas o consumo industrial manteve-se constante. Isto mostra uma grande diferença cultural em relação ao nosso país: a nossa tendência é remediar em vez de prevenir.

A intenção do Governo em adoptar este modelo é uma “boa intenção”. No entanto, não surtirá efeitos a curto/médio-prazo devido aos entraves culturais. O modelo Português terá que ser feito à medida dos portugueses, não dos povos nórdicos. Isto não significa que seja pior ou melhor: existem sempre vários caminhos para atingir um bom resultado. Em Portugal, elevados impostos significa para a maioria das pessoas “encher os bolsos dos governantes”. Não cremos que o Estado português tenha capacidade para aplicar a “flexisegurança”. Apostamos, sim, numa maior liberalização do mercado de trabalho, onde a maioria dos indivíduos constitui as suas próprias poupanças para o futuro e as empresas têm espaço para “respirar”, investir e crescer.

Publicado no Jornal de

01 agosto, 2007

Ser Maior e Melhor será mesmo Maior e Melhor?

“Lutar para ser maior e melhor...” Este deve ser o lema de um gestor, mas não da sua empresa. À partida todos estamos de acordo que o objectivo máximo de uma empresa é estar na linha da frente do seu sector de actividade, crescendo “sem limites” na sua área de negócio. Todos seriam beneficiados: os trabalhadores e os accionistas da empresa. Uma primeira questão impõe-se: o que é ser “maior” e “melhor”?

Será aumentar exponencialmente as vendas? Será vender os mesmos produtos com maior valor acrescentado? Ou será ter a estrutura de custos mais baixa do mercado? É de senso comum que o “maior” respeita à dimensão e o “melhor” à eficiência ou qualidade. Tudo leva a crer, portanto, que a empresa tem todo o interesse em preencher estes dois critérios: lideraria as vendas e estaria no máximo da sua eficiência. Seria, então, a empresa líder e estaria à frente das demais.

Que sentido poderá, então, ter a afirmação que fizemos? Darwin introduziu a “lei do mais forte”, procurando ensinar a perspectiva evolucionista: num processo evolutivo, apenas os mais aptos a líder com uma dada situação são os que sobrevivem. Dado que as preferências dos consumidores, e o próprio mercado, estão em mutabilidade permanente, sobreviverão as empresas que estiverem preparadas (antecipadamente) para os novos paradigmas. Ou que os “criem”. Assim, ser o maior e o melhor não são condições únicas para o sucesso de uma empresa a longo prazo; é o saber adaptar-se à realidade envolvente. Mas como conseguir tal adaptação? Inovando. Só com a inovação, que se espera que acarrete novos processos para uma mesma actividade (fazer o mesmo que se fazia antes com mais eficiência, qualidade e menos recursos), e tentando satisfazer as necessidades dos indivíduos (os quais podem até nem saber que as têm) será possível sobreviver num ambiente altamente competitivo e em constante mudança.

Tomemos como exemplo uma empresa têxtil do Vale do Ave. No início dos anos 90, a empresa era líder do mercado produzindo a um ritmo alucinante, empregando centenas de pessoas, procurando responder às sempre crescentes necessidades de artigos têxteis. Essa empresa era a maior do seu ramo e a sua eficiência fazia com que fosse também a melhor na produção de tais artigos. Porém, o mercado foi-se liberalizando e a China (em anos mais recentes) assumiu um papel preponderante neste sector devido aos meios de produção mais baratos. Já se previa esta evolução, mas o certo é que a empresa não soube inovar para se adaptar ao mercado a longo prazo. Resultado: era a maior e a melhor; foi à falência. Resta-nos apenas, e para terminar, saber porque deve o gestor ser maior e melhor. O gestor de uma empresa deve ser um líder e ser visionário; deve ser “maior” porque é um símbolo e “melhor” porque as (boas) decisões dependem de si, para que a empresa saiba se adaptar.