O Bom Senso no Terras do Ave

* Aqui encontra os artigos publicados no jornal vilacondense, Terras do Ave, escritos pelos autores d' O Bom Senso: Luís Soares e Nuno Miguel Santos*

Os textos são aqui publicados duas semanas após a sua publicação no jornal.

O Bom Senso

Jornal Terras do Ave

Publicado no Jornal de

01 dezembro, 2008

Uso e Abuso da Democracia

Manuela Ferreira Leite não tem conseguido fazer passar a sua mensagem, dirão alguns. Outros, porém, irão mais longe ao dizer que ela não tem mensagem para passar. Havendo, porventura, um pouco de verdade nas duas afirmações, é certo que a líder do PSD tem deixado muito a desejar. Nós, que não a vemos como o rosto de uma liderança futura de Portugal, pela postura que tem e pela imagem que lhe está associada (sobretudo, do tempo como Ministra das Finanças de Durão Barroso), não podemos deixar de notar que o seu silêncio em algumas matérias de importância nacional tem sido constrangedor, como se lhe passassem ao lado.

José António Saraiva escreveu que António Guterres lhe havia dito certa vez que a melhor coisa que tinha a fazer para ganhar as eleições para primeiro-ministro seria manter-se calado, já que Mário Soares fazia oposição ao PSD de Cavaco Silva. Sendo este um triste facto passado, seria um erro se pensar que Manuela Ferreira Leite sairia vencedora nas próximas eleições caso Cavaco Silva decidisse seguir a velha máxima de fazer aos outros aquilo que lhe fizeram a ele.

E se o seu silêncio não tem sido oportuno, o mesmo podemos dizer da sua última intervenção, quando afirmou que em democracia não se podem fazer reformas sem todos estarem em concordância. Verdade de La Palisse. Depois, em jeito de ironia, acrescentou o que muitos portugueses pensam todos os dias: que se deveria suspender a democracia durante seis meses. Atendendo à realidade, o grande problema parece ter sido só um: o de o ter dito expressamente.

Vejamos o caso de José Sócrates: autoritário, por vezes a roçar o prepotente, discursa sobre os mais variados temas como se passasse um atestado de menoridade aos portugueses. Para este, a democracia é como a bandeira de Portugal para os fãs de futebol: só se lembra dela na altura do mediatismo. Na verdade, José Sócrates dobra e desdobra a democracia quando lhe convém. Mas nunca o disse publicamente. Ministra Maria de Lurdes Rodrigues, na ordem do dia, é outro exemplo: fez-se inúmeras vezes surda às vozes que apontam ineficiências às reforças que tem tentado levar a cabo no ensino, que aproveitou uns minutos de televisão para afirmar que se reuniria com as partes intervenientes com uma só intenção: “ouvir”.

O sentimento é de puro “faz de conta”. A liberdade que a Democracia acarreta leva a que, por vezes, se cometam excessos. Muitas reformas caem por terra por desentendimentos, muitos projectos não avançam por discórdia das partes. Mas o problema não está na existência de uma Democracia; está sim no uso, e no abuso, que todos e cada um de nós lhe pode dar.