O Bom Senso no Terras do Ave

* Aqui encontra os artigos publicados no jornal vilacondense, Terras do Ave, escritos pelos autores d' O Bom Senso: Luís Soares e Nuno Miguel Santos*

Os textos são aqui publicados duas semanas após a sua publicação no jornal.

O Bom Senso

Jornal Terras do Ave

Publicado no Jornal de

15 janeiro, 2009

Um Ano Novo Optimista

Na sua mensagem de Ano Novo, o Presidente da República (PR) manifestou apreensão relativamente aos elevados salários auferidos por “altos dirigentes de empresas”. Apesar de concordarmos em geral com as ideias transmitidas, discordamos deste “falso” alerta e das consequências que tem na consciência dos portugueses.

É inegável que para a maioria da população activa, ganhar 5, 10 ou 25 mil euros mensais é absurdo e injusto face ao salário médio de um português. No entanto, há duas formas de ler estes números. A primeira, onde se insere a referência do PR, é de “vistas curtas”, irremediavelmente populista e demagógica. Considera-se que por os “altos dirigentes” usufruírem de tais regalias financeiras, toda a população paga por isso e tem cada vez menos poder de compra. Os gestores ocupam uma minoria de lugares que exigem pessoas altamente competentes e experientes, sendo alvo de grandes ofertas salariais por parte dos accionistas das empresas privadas, ou do Governo, no caso de empresas públicas. Sabemos que o PR referiu: “sem pôr em causa o princípio da valorização do mérito e a necessidade de captar os melhores talentos (...)”. Mas é precisamente esse princípio que está a ser posto em causa.

A outra perspectiva leva-nos a abordar esta questão da seguinte forma: porque ganham em média os portugueses tão pouco? Porque temos cada vez menos poder de compra em relação aos nossos vizinhos europeus?

O objectivo nacional não pode ser o de reduzir meia dúzia de salários àqueles que tentam dar vida às empresas; sabemos que em muitas empresas a gestão não é competente, mas, abordando a questão a médio-longo prazo, só os competentes sobreviverão. O objectivo tem de ser, isso sim, o de aumentar os salários médios dos trabalhadores, criando uma ampla classe média com desafogo económico. Isso só é possível com políticas construtivas, que apostem no desenvolvimento das pessoas e na criação de empresas modernas e competitivas, orientadas para o mundo e não apenas para duas ou três cidades e um arquipélago. E aqui o Governo deve intervir, apoiando quem cria novas tecnologias, quem se internacionaliza, ou quem cria postos de trabalho sustentáveis e aposta no desenvolvimento de cada colaborador. Continuar a ter parcos resultados na Educação, formando pessoas pouco qualificadas, e apostar no preço e não na qualidade dos produtos só ajuda a agravar a situação.

Entendemos que uma mensagem de Ano Novo deveria suscitar optimismo, vontade de mudar, alargar os nossos horizontes, dar um impulso para crescermos como povo, lutarmos e evoluirmos, em vez de alimentar choques infundados entre classes, desgosto pela situação presente e perda de esperança no futuro.