O Bom Senso no Terras do Ave

* Aqui encontra os artigos publicados no jornal vilacondense, Terras do Ave, escritos pelos autores d' O Bom Senso: Luís Soares e Nuno Miguel Santos*

Os textos são aqui publicados duas semanas após a sua publicação no jornal.

O Bom Senso

Jornal Terras do Ave

Publicado no Jornal de

15 março, 2007

Oferta Pública de Destruição?

A destruição da PT prejudica o país.” Nisso, julgamos, estamos todos de acordo. E é precisamente por essa razão que lamentamos que a OPA da Sonaecom sobre a PT não tenha tido sucesso. Esta frase do Sindicato dos Trabalhadores da Portugal Telecom (STPT) é mais uma a somar a outras tantas afirmações sem razão de fundo, senão a defesa irracional dos trabalhadores da PT: “Era muito importante para nós que esta OPA não se concretizasse, mas agora temos que pensar no futuro e temos algumas preocupações relativamente à manutenção dos direitos dos trabalhadores e à salvaguarda dos postos de trabalho.”

Se o problema destes senhores do Sindicato era o despedimento dos trabalhadores caso a Sonaecom vencesse, a verdade é que em 2006 a PT despediu 792 trabalhadores por rescisões por mútuo acordo, por pré-reformas e por suspensões do contrato de trabalho – o que levou a um custo total de 229 milhões de euros. Para 2007 aguarda-se a saída de 1.000 pessoas, no âmbito de um plano total de 2.500 saídas entre 2006 e 2008. Portanto, a questão dos despedimentos acaba por ser uma falsa de questão: para a PT prosperar é obrigatória a redução de custos que não façam sentido (dessa forma os que ficam podem ambicionar uma empresa melhor para todos). Caso a PT passasse a integrar o Grupo Sonae, o nível de exigência pedida aos trabalhadores seria, seguramente, muito superior – o que não lhes agrada.

O certo é que a PT passou a ser melhor gerida desde que a OPA foi anunciada, há mais de um ano. A administração sentiu-se pressionada para mostrar melhores resultados aos accionistas e conseguir salvaguardar-se da aquisição por parte de outras empresas. Em 2006 o resultado líquido da PT aumentou 33%, face ao ano anterior, para 867 milhões de euros, o valor mais elevado de sempre, superando todas as expectativas. Apesar das receitas terem diminuído, o aumento dos lucros deveu-se a uma diminuição ainda maior dos custos, sobretudo via despedimentos.

Os representantes do Sindicato Nacional dos Trabalhadores das Telecomunicações e Audiovisual (SINTTAVE) afirmaram que “Belmiro de Azevedo não sabe gerir empresas de telecomunicações e vai destruir a PT.” Cabe dizer que o Engº Belmiro não é gestor da Sonaecom nem consta que esteja disponível para gastar dinheiro numa empresa (PT), apenas com o intuito de a destruir.

Repare-se que a eloquência dos sindicatos é tanta que, durante a Assembleia Geral, aplaudiam ou apupavam os accionistas consoante a sua posição face à OPA – no dia anterior estariam, porventura, a criticar os homens do capital? Os accionistas, verdade seja dita, preocupam-se mais com os seus interesses; a administração da PT é que tem o verdadeiro dever de se preocupar com os trabalhadores. Alguém acredita que Joe Berardo se mostrou contra a OPA por causa dos trabalhadores, quando sabia que obteria um estupendo encaixe em dividendos? O problema dos sindicatos é não defenderem ideias, mas sim, as oportunidades do momento.

Publicado no Jornal de

01 março, 2007

Gestão de Qualidade

É, hoje em dia, consensual que a maioria das empresas portuguesas não se conseguiu adaptar devidamente à globalização dos mercados de bens e serviços. Referimo-nos ao desenvolvimento de um mercado gigantesco, mais especificamente a novos ou diferentes tipos de concorrência, como custos de produção mais baixos, investimento em investigação e desenvolvimento (I&D) e aposta no conhecimento e na formação dos recursos humanos. A questão que então se coloca é porque razão essa adaptação não aconteceu com a generalidade das nossas empresas.

A observação que fazemos diz-nos que o problema reside na gestão e nos quadros administrativos das empresas. As empresas não canalizaram os devidos recursos para a formação e inovação como, porventura, deveriam ter feito.

Em Portugal, a Gestão foi em certa medida posta de parte pelos empresários. Melhor dizendo, estes executavam uma “gestão rotineira”, descontinuada e limitada aos parâmetros operacionais - aquilo a que na gíria se designa de “gestão corrente”: resolver um problema que surge com um cliente, aprovar o orçamento para o próximo ano, ir aqui e ali, discutir os empréstimos a obter e as máquinas a comprar, falar com este e com aquele (tudo isto importante mas não suficiente). Como a última década foi de crescimento rápido e de entrada de fundos comunitários como até então não se tinha registado, foi fácil para muitos empresários manter tal laxismo sem que as empresas fossem afectadas com isso.

Mas hoje a realidade é diferente e devia ter sido antecipada e, até, evitada. A aposta numa gestão estratégica e planeada, para além da resolução das tarefas diárias que o cargo de gestor exige, é crucial para a sustentabilidade de um negócio a longo prazo. Em concreto falamos na concretização de um plano de acção de negócio, avaliação das perspectivas dos mercados em que a empresa opera e nos que poderá, eventualmente, vir a operar, perceber a evolução dos concorrentes e procurar inovar a todo o momento sem nunca pensar que “o trabalho está definitivamente feito”, porque há sempre algo a melhorar.

Como se disse anteriormente, uma gestão eficiente consegue-se aliando um planeamento estratégico com uma resolução diária de problemas e conflitos internos. O gestor deverá ser o melhor remunerado porque tem o papel de pensar e definir um caminho para fazer com que os accionistas e todos trabalhadores de uma empresa ganhem mais - quer seja em remuneração, formação ou boas perspectivas para o futuro; não por ser apenas um bombeiro com a missão de “apagar fogos” na empresa.