O Bom Senso no Terras do Ave

* Aqui encontra os artigos publicados no jornal vilacondense, Terras do Ave, escritos pelos autores d' O Bom Senso: Luís Soares e Nuno Miguel Santos*

Os textos são aqui publicados duas semanas após a sua publicação no jornal.

O Bom Senso

Jornal Terras do Ave

Publicado no Jornal de

15 outubro, 2006

A Função da Política nos Dias de Hoje

Nos tempos que correm, com as decisões que há para tomar, como se posicionam os partidos políticos, qual a sua verdadeira influência? Onde se situam a Esquerda e a Direita? Começaremos por uma brevíssima descrição das suas origens.

Há duas ideologias principais de onde surgem todas as outras. Estas duas podem considerar-se correspondentes, respectivamente, à direita e à esquerda, e denominam-se Liberalismo e Socialismo.

O Liberalismo defende o livre desenvolvimento da economia através do mercado, não recorrendo a intervenções e regulações do Estado que vão para além da garantia dos direitos de propriedade. Com a adopção de políticas liberais sem qualquer intervenção do Estado, o capitalismo tornou-se feroz, explorando os operários assalariados (corporativismo). O socialismo surgiu, assim, como resposta a este problema, sugerindo medidas opostas e, na maioria das vezes, um pouco radicais - ou seja, passou-se dum capitalismo enfermo para um sobrecontrolo da economia. Os socialistas defendiam que todos “fossem iguais” e tivessem os mesmos direitos. Para atingir este objectivo recorreram ao poder absoluto, nacionalizando as empresas e repartindo os lucros por toda a sociedade.

Ao olharmos para o espectro político português vemos que nem só estas ideologias o compõem e, além disso, nenhum partido com assento no parlamento se rege literalmente por elas.

O CDS-PP alinha pelo ramo do liberalismo denominado democracia-cristã, seguindo ideias liberais moderadas.

No lado do socialismo temos (predominantemente) o PCP e o BE. Ambos defendem políticas sociais e de intervenção do Estado mais radicais. O PCP representa a vertente comunista do socialismo, uma versão muita próxima da explosão socialista inicial.

O PS e o PSD têm como ideologia a social-democracia, embora, como sabemos, tenham práticas políticas um pouco diferentes. A social-democracia surge como uma “terceira via” que tenta chegar a um equilíbrio entre o Liberalismo e o Socialismo. Defende uma intervenção racional do Estado sobre a economia, recorrendo a instituições para evitar injustiças sociais e ao mesmo tempo fomentar o desenvolvimento económico.

Apesar da Direita e a Esquerda serem bem distintas no que diz respeito às definições económicas e sociais dos partidos políticos, o mesmo já não acontece com a perspectiva moral que têm sobre a sociedade. Não podemos dizer que a Direita é sempre Conservadora e que a Esquerda não o é, ainda que essa seja a tradição. No entanto, é perfeitamente possível que um defensor da economia de mercado seja a favor do aborto e vice-versa. Hoje em dia torna-se difícil definir políticas de voto dentro dos partidos no parlamento quando falamos de aspectos morais, como o aborto, a eutanásia, a liberalização das drogas ou o consumo de álcool. Essas definições parecem cada vez mais estar nas mãos da sociedade civil (daí a recorrência a referendos). A política vai ficando, ao longo do tempo, confinada a decisões económicas. E nesse aspecto o “centrão” é o que tem mais vantagens: “vai agradando” um pouco a todos.

Publicado no Jornal de

01 outubro, 2006

“E você, já pensou em ir de Expresso ao Sol?”

Dia 16 do mês que agora termina, chegou às bancas o “Sol”, o novo semanário dirigido pelo ex-director do Expresso, José António Saraiva. Há muito que se falava deste jornal, nomeadamente se estaria à altura de “enfrentar” o há muito instituído jornal Expresso.

Sempre que duas, ou mais, instituições competem entre si por uma quota de mercado (i.e., por objectivos comuns), ganhará aquela que apresentar o que em economia se designa por vantagem competitiva: de que forma é que o meu produto é superior ao meus concorrentes? Como que em resposta a esta pergunta, o Sol apresentou-se como um jornal inovador, com novos conteúdos, uma estrutura editorial bem definida e uma postura frontal sobre aquilo que o jornal é e aquilo que pretende ser aos olhos das pessoas.

A entrada deste novo semanário no mercado é favorável à sociedade, sobretudo porque traz mais informação, novos pontos de vista sobre a mesma, alarga o leque de escolha aos consumidores (fomentando a liberdade de escolha e o sentido crítico) e cria valor na economia. Além de dar lucro aos seus accionistas, pode também ser um catalizador da qualidade dos concorrentes (neste caso, do jornal Expresso). Este é um ponto importante, porque a concorrência estimula a imergência de vantagens competitivas. Em qualquer mercado (seja numa feira, numa lota, ou numa Bolsa de Valores), a concorrência é o fundamento de um capitalismo saudável.

Consideremos o caso do Expresso. Anunciada a data de publicação da primeira edição do Sol, o semanário remodelou a sua estrutura e apresentação, oferecendo gratuitamente aos consumidores filmes em DVD. Ou seja, procurou introduzir as tais vantagens competitivas de que falávamos em relação ao seu concorrente directo, que lhe permitiriam assegurar, e porventura captar, clientes. [A oferta de brindes, por exemplo, é um dos factores que diferencia a linha editorial dos dois jornais. Na primeira página do Sol podia-se ler: “Um jornal que vale por si. Este semanário não oferece brindes, nem faz promoções.”] A procura incessante de argumentos que permitam distinguir os dois jornais acaba por ser uma mais-valia, já que cada um procurará ser melhor que o outro. E, claro, quem fica a ganhar são os clientes. Esta “luta” pela preferência dos leitores fomenta a criatividade e obriga a que as partes envolvidas dêem sempre o seu melhor para não serem ultrapassadas. Ou seja, o mercado nunca perde com a entrada de novos concorrentes. No limite, quando o mesmo estiver saturado, apenas sobreviveram aqueles que melhor satisfazem as necessidades dos consumidores.

Pense-se, agora, na possibilidade de surgir um novo jornal em Vila do Conde, capaz de se tornar num sério concorrente directo ao Terras do Ave (TA). À primeira vista, poderá parecer prejudicial para este jornal. É certo que alguns leitores poderão preferir o outro jornal, o que, consequentemente, faria o TA reduzir o número de vendas. No entanto, a médio prazo o esforço acrescido que o TA teria de fazer para competir com o novo jornal traria frutos, podendo vir a recuperar antigos clientes e até atrair a atenção de novos leitores. Além disso, a equipa editorial do Terras do Ave iria, com certeza, evoluir ainda mais no sentido de prestar um melhor serviço aos seus leitores.