O Bom Senso no Terras do Ave

* Aqui encontra os artigos publicados no jornal vilacondense, Terras do Ave, escritos pelos autores d' O Bom Senso: Luís Soares e Nuno Miguel Santos*

Os textos são aqui publicados duas semanas após a sua publicação no jornal.

O Bom Senso

Jornal Terras do Ave

Publicado no Jornal de

15 março, 2006

Caldeirada de Opinião (I)

Um Novo Presidente. No dia nove de Março tomou posse Aníbal Cavaco Silva (e não, Aníbal Cavaco e Silva...) como novo Presidente da República Portuguesa. A sua eleição quebrou o mito da presidência só de esquerda a partir do 25 de Abril, como já havíamos referido, e irá permitir abrir mais espaço na Direita portuguesa. Também nesse dia cessou funções Jorge Sampaio, um presidente que se caracterizou pelas “falinhas mansas” e pelo politicamente correcto. Foram dez anos de apatia, de muita pouca acção, cumprindo, no entanto, bem o dever de nos representar internacionalmente (não pode passar despercebida a atitude de Mário Soares que abandonou a Assembleia da República sem ter cumprimentado o Presidente Cavaco Silva; vindo dele, que se diz tão democrata, revelou o que lhe vai na alma: que ainda não conseguiu digerir/admitir a derrota).

Morte na Estrada (I). Em 1998, uma criança de cinco anos morreu num desastre de viação, provocado por um condutor de um camião que circulava no IP5 a 140km/h, numa zona em que a velocidade permitida é de 60km/h, não respeitando a distância mínima de segurança e fazendo uma ultrapassagem numa zona onde tal não é permitido a pesados. Sentença: dois anos de prisão, com pena suspensa por três.

Morte na Estrada (II). Esta semana veio a público a sentença atribuída ao condutor que há quatro anos matou, num negligente acidente de viação, os pais de uma menina, na altura com cerca de 4 meses, que felizmente acabou por sobreviver. Consequência: 7 meses sem conduzir, condenado a 2 anos e alguns meses de prisão, com pena suspensa. Não querendo por em causa a decisão dos juízes (nos dois casos apresentados), já que desconhecemos as razões que fundamentam as sentenças, não podemos deixar de manifestar alguma surpresa. Uma pessoa que, negligentemente, mata duas pessoas e condena uma criança e sai impune só vem provar que, afinal, talvez o crime compense.


OPA. A oferta pública de aquisição da Sonae.com sobre a Portugal Telecom foi uma lufada de ar fresco na economia portuguesa. O objectivo de um mecanismo de mercado deste género é o de mudar uma gestão ineficiente para uma gestão que maximize o valor da empresa (dentro das suas possibilidades). Assim, ao concretizar-se a OPA, a Sonae aplicará as ideias que tem para a PT tornando-a, muito provavelmente (conhecendo nós o sucesso da própria Sonae), numa empresa mais criadora de riqueza, o que favorecerá a PT, a Sonae, Portugal e o mercado (económico, financeiro e de trabalho).

Contornar as Rotundas. De norte a sul do pais é sintomático assistir-se a uma condução errada, dos muitos portugueses e portuguesas que têm carta de condução, sempre que circulam numa rotunda. A saber: o actual código estrada contempla que o contorno a uma rotunda se faz da seguinte forma (exemplo para via com duas faixas): os indivíduos que pretendam tomar a primeira saída, devem, portanto, ocupar a faixa de rodagem mais à direita; e todos os outros – que pretendam ou seguir em frente ou contornar à esquerda – devem ocupar a faixa da esquerda. Evitam-se, assim, embaraços, buzinadelas e insultos, ou quaisquer pretensos acidentes.

Falta de Democracia em Vila do Conde. A noticia publicada na última edição deste jornal, segundo a qual a maioria socialista na Assembleia Municipal aprovou a concessão de menos tempo de intervenção aos deputados da oposição, é um ‘passo em falso’ à tão proclamada igualdade defendida pela esquerda (socialista) e um sinal claro de restrição à pluralidade de opiniões. Ainda que seja legal e para não falarmos em vergonha, ficamo-nos pela falta de Bom Senso.

Publicado no Jornal de

01 março, 2006

Das Caricaturas às Incongruências

As manifestações geradas em torno das caricaturas do profeta Maomé merecem, indiscutivelmente, o nosso repúdio. Podemos até aceitar que tais imagens possam ter ferido a sensibilidade de muitos muçulmanos e concordamos que os seus autores possam não ser pessoas de muito bom senso. Todavia, as reacções a que temos vindo a assistir são por demais excessivas e ultrapassam o patamar da racionalidade.
Os ataques de vandalismo que têm vindo a sofrer múltiplas embaixadas de países europeus em países árabes, o incendiar e pisar de bandeiras europeias, o criar, propositadamente, uma bandeira dinamarquesa gigante para que os transeuntes esfreguem os seus pés (e sugiram às crianças o mesmo), e até o aproveitamento politico da situação por parte do Irão, mostram o fundamentalismo e o radicalismo, que não podem ter justificação, enraizados em muitas sociedades muçulmanas.
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Alguém imagina um europeu católico a "urrar" em frente a uma embaixada árabe, já em chamas, em circunstâncias idênticas? Pelos vistos, para o Sr. Freitas esta é uma possibilidade. Ou então, das duas uma, ou acha que os fundamentalistas são uns "coitadinhos" ou desceu ao nível do politicamente do correcto. Qualquer uma das hipóteses é de lamentar. Em vez de defender os princípios e valores nacionais e europeus, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, em representação de todos nós, limitou-se a "lamber os pés" aos extremistas muçulmanos.
E deixemo-nos de hipocrisias: como podem eles repudiar meros desenhos de um jornal quando, por outro lado, sabemos, por imagens e vídeos que nos chegam via internet (com nenhuma divulgação na comunicação social), que crianças vêm os seus braços esmagados por camiões - só por terem roubado um pão, que mulheres são apedrejadas até à morte e que homens vêm os seus membros amputados como pena de um crime? O facto de estas imagens não chegarem à opinião pública ocidental, distorce a nossa visão dos valores que estas sociedades ainda defendem (na sua maioria). Há um passo cultural a ser dado, não pelos ocidentais, mas sim, pelos árabes. Nós temos um papel nessa mudança mas isso não pode significar a abdicação daquilo que vimos construindo há centenas de anos.
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Da mesma forma, e num contexto algo diferente, o mesmo acontece(u) com a opinião pública que condenou a guerra no Iraque e o objectivo de derrubar o regime de Saddam Hussein (independentemente de existirem, ou não, armas de destruição massiça).
Quase nenhuma das atrocidades cometidas pelo seu regime eram divulgadas nos media: assassínios em massa; tortura macabra de criminosos; assassínio de mulheres em estádios de futebol; detonação de pessoas, encapuçadas, amarradas e artilhadas com explosivos por todo o corpo ou o depósito de corpos em valas comuns. Mais recentemente, as execuções (decapitações) de cidadãos ocidentais raptados por terroristas árabes foram apenas referidas nos media e nada mais foi visto ou comentado.
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No entanto, o conhecimento dessas imagens poderia ser o ponto de viragem da opinião pública, que não encontraria argumentos, nem ficaria indiferente, por exemplo, a uma lenta decapitação, com recurso a uma faca, de um lado ao outro do pescoço, como se de uma galinha se tratasse.
Isto é delicado de se ler (ver) mas é fundamental que se saiba que acontece, hoje em dia, nos bastidores da acção. Porque caímos no erro de ver os problemas apenas por uma perspectiva, como está a ser, em parte, o das caricaturas.
Enquanto o fanatismo religioso prosperar, as esperanças para uma convivência saudável entre os povos é uma miragem.