O Bom Senso no Terras do Ave

* Aqui encontra os artigos publicados no jornal vilacondense, Terras do Ave, escritos pelos autores d' O Bom Senso: Luís Soares e Nuno Miguel Santos*

Os textos são aqui publicados duas semanas após a sua publicação no jornal.

O Bom Senso

Jornal Terras do Ave

Publicado no Jornal de

15 junho, 2005

Sim!

Somos a favor do tratado da Constituição Europeia. Não de forma radical ou incondicional, mas sim, com a confiança de que este seja mais um passo na convergência económica, política e social (com mais relevo para as duas últimas) entre os povos europeus.

Numa altura em que o tema da ratificação do tratado da Constituição Europeia está na ordem do dia, muito devido ao “Não” francês e neerlandês, pareceu-nos importante escrever, neste espaço, algo breve mas que alertasse e relembrasse aos nossos leitores algumas das muitas vantagens, para Portugal e para a Europa, que se podem retirar com a aprovação deste texto.

Convém, em primeiro lugar, não esquecermos quais os objectivos fundamentais da União e qual a sua importância para o futuro comum:
1. “A União tem por objectivo promover a paz, os seus valores e o bem-estar dos seus povos.”
2. “A União proporciona aos seus cidadãos um espaço de liberdade, segurança e justiça sem fronteiras internas e um mercado interno em que a concorrência é livre e não falseada.” (Artigo I-3º do Tratado da Constituição)

Vota Constituição Europeia



Esta Constituição é uma síntese de todos os tratados celebrados anteriormente, com um cariz liberal, já que a sua base assenta na livre circulação de Homens, mercadorias e capitais. Adjacente a estes princípios liberais, está, obviamente, a necessidade de uma responsabilidade individual e colectiva. Um aspecto marcante desta necessidade de responsabilidade é a constante alusão do tratado às normas de concorrência, sem, no entanto, deixar de introduzir, pela primeira vez, ambições sociais (objectivos partilhados pela Direita e pela Esquerda não radicais) como o pleno emprego, a solidariedade ou a igualdade entre as mulheres e os homens.

Uma das novidades é que a aplicação das regras de concorrência não será apenas sobre o sector privado: este é encarado em pé de igualdade com o sector público. A Constituição é clara: são condenados tanto os monopólios públicos como os privados. Outro ponto forte deste tratado, embora possa não parecer, é a possibilidade de haver dumping fiscal, ou seja, cada país terá a liberdade de escolher as taxas de impostos que preferir, o que contrariará a tendência dos Estados em aumentar os impostos, visto que ao fazê-lo estará a retirar competitividade à sua economia e a favorecer o deslocamento de pessoas, empresas e capitais para outros Estados-membros.

Seria inconsciente que Portugal não aderisse a este projecto. Ao renegarmos este tratado estaríamos a pôr em causa a nossa posição em relação, não só à Europa, mas também ao mundo. Portugal, pelo contrário, deve sim, tentar contribuir e interferir nas decisões tomadas a nível europeu.

Somos a favor do tratado da Constituição Europeia. Não porque a classe política partilha dessa opinião, ou porque o politicamente correcto assim o exige, mas sim, porque, partilhando dos seus valores e objectivos, a vemos como uma parte crucial do longo caminho a percorrer na busca por uma identidade europeia mais forte, mais credível e que garanta a permanência da União como um pilar da estabilidade mundial. Por isso dizemos: Sim!


Luís Soares
Nuno Miguel Santos

Publicado no Jornal de

01 junho, 2005

Empreitadas na Escola José Régio

- Então Sebastião, já viste os novos “dispositivos” aqui na entrada da escola?
- Olá! Já, já vi e acho difícil de compreender a sua utilidade.
- Achas mesmo? Mas aquilo é muito sofisticado. Quando passas o cartão acende-se uma luz verde e, se saíres da escola sem o passares, acende-se logo uma luz vermelha e uma sirene começa a tocar!
- João, o problema é que aquilo toca tanto que o porteiro, de tão saturado que fica, até põe a mão na sirene para abafar o som! Mas enfim... Até há professores que se queixam que aquele barulho irritante perturba as aulas.

Sebastião e João, dois colegas de turma, encontram-se na saída da sua escola. Estão na hora do almoço e, à sua volta, está instalada a confusão, já que os alunos entram e saem pelo mesmo local.

- Eu ainda não descortinei a finalidade destes “dispositivos” (não sei que outro nome lhes hei-de dar). Já viste a confusão que se forma para se poder sair da escola? Toda a gente aos empurrões... Isto é uma prova irrefutável de investimento infrutífero. Ora pensa: se a intenção era fazer o controlo das entradas e saídas, os resultados são no mínimo hilariantes, pois muitas vezes, às 8:20, esses “dispositivos” não estão a funcionar e quem nesses dias sai da escola às 13:25, segundo o sistema de controlo, estaria a entrar e não a sair...
- Realmente Sebastião...
- E mais: é caricato ser preciso disponibilizar empregados para assegurar que os alunos não saiam sem passar o cartão, quando se podia ter optado por uns simples torniquetes. Além disso, já ouvi professores dizerem: “Ai, eu não passo o cartão!”, como se tal fosse contra o seu estatuto hierárquico.
- Nisso és lá capaz de ter razão... Mas não podes dizer que as novas câmaras de vigilância também não foram um bom investimento.
- Olha, por acaso até tenho dúvidas. Além da sua legalidade ser contestável, para pouco parecem servir. Aliás, nem placas bem visíveis com aviso de “local sob vigilância” existem.
- A sério? Mas então as coisas são feitas assim “à balda”?
- Quer dizer, eu não diria tanto, mas que alguma coisa não funciona bem, lá isso é verdade. No fundo, é tudo um problema de gestão. Já agora, assististe à “inauguração” do toldo ou do resguardo que se encontra à saída do Conselho Executivo? Eu assisti. Foi bonito! Ver os elementos do Conselho Executivo a observar os empregados a fixá-lo, em amena cavaqueira, quase emocionados, a tecer elogios àquela “empreitada”. Só visto!
- Imagino.. Mas falavas num problema de gestão...
- Sim. Na minha opinião, o problema fulcral, desta e de muitas escolas, reside no facto de serem professores a exercerem funções de gestão (que não é a sua especialidade), em vez de se contratarem gestores profissionais. Já pensaste o que era um arquitecto a exercer medicina ou vice-versa?
- Pois, não faria sentido... Olha, é como o meu pai diz: “Isto ‘tá tudo como há-de ir!”
- E responsabilidades? Ninguém se preocupa porque não há avaliação do desempenho de quem trabalha nas escolas. Os professores que se aventuram a ser gestores são tão eficientes que só faltava termos escolas públicas a apresentar lucros...
- Boa piada. Vamos almoçar?
Luis Soares
Nuno Miguel Santos