O Bom Senso no Terras do Ave

* Aqui encontra os artigos publicados no jornal vilacondense, Terras do Ave, escritos pelos autores d' O Bom Senso: Luís Soares e Nuno Miguel Santos*

Os textos são aqui publicados duas semanas após a sua publicação no jornal.

O Bom Senso

Jornal Terras do Ave

Publicado no Jornal de

01 junho, 2005

Empreitadas na Escola José Régio

- Então Sebastião, já viste os novos “dispositivos” aqui na entrada da escola?
- Olá! Já, já vi e acho difícil de compreender a sua utilidade.
- Achas mesmo? Mas aquilo é muito sofisticado. Quando passas o cartão acende-se uma luz verde e, se saíres da escola sem o passares, acende-se logo uma luz vermelha e uma sirene começa a tocar!
- João, o problema é que aquilo toca tanto que o porteiro, de tão saturado que fica, até põe a mão na sirene para abafar o som! Mas enfim... Até há professores que se queixam que aquele barulho irritante perturba as aulas.

Sebastião e João, dois colegas de turma, encontram-se na saída da sua escola. Estão na hora do almoço e, à sua volta, está instalada a confusão, já que os alunos entram e saem pelo mesmo local.

- Eu ainda não descortinei a finalidade destes “dispositivos” (não sei que outro nome lhes hei-de dar). Já viste a confusão que se forma para se poder sair da escola? Toda a gente aos empurrões... Isto é uma prova irrefutável de investimento infrutífero. Ora pensa: se a intenção era fazer o controlo das entradas e saídas, os resultados são no mínimo hilariantes, pois muitas vezes, às 8:20, esses “dispositivos” não estão a funcionar e quem nesses dias sai da escola às 13:25, segundo o sistema de controlo, estaria a entrar e não a sair...
- Realmente Sebastião...
- E mais: é caricato ser preciso disponibilizar empregados para assegurar que os alunos não saiam sem passar o cartão, quando se podia ter optado por uns simples torniquetes. Além disso, já ouvi professores dizerem: “Ai, eu não passo o cartão!”, como se tal fosse contra o seu estatuto hierárquico.
- Nisso és lá capaz de ter razão... Mas não podes dizer que as novas câmaras de vigilância também não foram um bom investimento.
- Olha, por acaso até tenho dúvidas. Além da sua legalidade ser contestável, para pouco parecem servir. Aliás, nem placas bem visíveis com aviso de “local sob vigilância” existem.
- A sério? Mas então as coisas são feitas assim “à balda”?
- Quer dizer, eu não diria tanto, mas que alguma coisa não funciona bem, lá isso é verdade. No fundo, é tudo um problema de gestão. Já agora, assististe à “inauguração” do toldo ou do resguardo que se encontra à saída do Conselho Executivo? Eu assisti. Foi bonito! Ver os elementos do Conselho Executivo a observar os empregados a fixá-lo, em amena cavaqueira, quase emocionados, a tecer elogios àquela “empreitada”. Só visto!
- Imagino.. Mas falavas num problema de gestão...
- Sim. Na minha opinião, o problema fulcral, desta e de muitas escolas, reside no facto de serem professores a exercerem funções de gestão (que não é a sua especialidade), em vez de se contratarem gestores profissionais. Já pensaste o que era um arquitecto a exercer medicina ou vice-versa?
- Pois, não faria sentido... Olha, é como o meu pai diz: “Isto ‘tá tudo como há-de ir!”
- E responsabilidades? Ninguém se preocupa porque não há avaliação do desempenho de quem trabalha nas escolas. Os professores que se aventuram a ser gestores são tão eficientes que só faltava termos escolas públicas a apresentar lucros...
- Boa piada. Vamos almoçar?
Luis Soares
Nuno Miguel Santos