O Bom Senso no Terras do Ave

* Aqui encontra os artigos publicados no jornal vilacondense, Terras do Ave, escritos pelos autores d' O Bom Senso: Luís Soares e Nuno Miguel Santos*

Os textos são aqui publicados duas semanas após a sua publicação no jornal.

O Bom Senso

Jornal Terras do Ave

Publicado no Jornal de

15 julho, 2008

A Harmonização do Concelho de Vila do Conde (I)

Nesta quinzena queremos iniciar a discussão de um tema que consideramos ser relevante para todos nós: a harmonização de políticas para (todo) o concelho de Vila do Conde. Olhando para o panorama actual, Vila do Conde tem uma área muito vasta, rica em potenciais recursos económicos, mas parcialmente desorganizada e desaproveitada. Muito sumariamente, vamos abordar três de vários sub-temas possíveis em três artigos diferentes: a costa, a área verde e a organização entre freguesias.

A costa do concelho vai desde a freguesia de Vila do Conde até à freguesia de Labruge. São quilómetros de excelentes areais que poderiam transformar-se em excelentes praias que atraíssem turistas durante o verão. Neste sentido é primordial desenvolver uma estratégia comum para o concelho que, em poucos anos, crie uma marca “praia de Vila do Conde” que fosse consistente de Labruge à cidade, garantisse parqueamento adequado, que fosse evoluindo à medida das necessidades. Isto implicaria, no mínimo, bandeiras azuis de norte a sul do concelho. O turismo de praia atrai público de todos os tipos, mas quanto maior for a qualidade das praias e infra-estruturas contíguas, maior será o número de turistas com elevada capacidade económica. Isto levará a investimento imobiliário por parte dos mesmos e fomentará a abertura e expansão do comércio em todo o concelho.

Não podemos também deixar de falar do mar e das suas potencialidades. A câmara pode fazer mais em relação à pesca, contribuindo para a organização dos pequenos pescadores em frotas maiores, com embarcações adaptadas às novas exigências (ex.: motores mais eficientes), incentivando também a criação de empresas com dimensão e capacidade competitiva e criando melhores condições nas lotas. Nem tudo é política nacional, o poder local pode fazer muito mais do que faz e tem até mecanismos fiscais que pode usar.

Vila do Conde deve estar na linha da frente dos investimentos em energia marítima, como é exemplo a energia das ondas. No futuro irão inevitavelmente surgir muitas oportunidades nesta área e impõe-se promover o estudo científico do mar, criando oportunidades de emprego nesta área de conhecimento. Para desenvolver o concelho, a Câmara deverá estar atenta a tais oportunidades. Não pode apenas “sentar-se” à espera que o investimento venha cá parar. Tem que procurar e mostrar aos possíveis investidores que está à procura.

Publicado no Jornal de

01 julho, 2008

Educação Contraditória?

Os resultados das provas de aferição aos alunos dos 4º e 6º anos de escolaridade foram recentemente divulgados pelo Ministério da Educação (ME): 18,3% dos alunos teve “Não Satisfaz”, enquanto que no ano passado 41% chumbaram na prova. Ou seja, as negativas caíram para menos de metade. Apenas 1,8% obteve a nota mais baixa (nível E), face aos 6,6% de 2007. Esta evolução parece fabulosa. Num país onde se diz que a Matemática, por exemplo, é um “quebra cabeças”, saber que 90% dos alunos do 4º ano e 85% dos alunos do 6º ano tiveram nota positiva parece algo contraditório. Apetece até perguntar se estamos mesmo em Portugal.

Um olhar mais crítico leva-nos ainda a perguntar: porquê esta melhoria de resultados nos 4º e 6º anos de escolaridade? Uma primeira hipótese, muito pouco convincente, será dizer que os alunos nascidos em 1997 e 1999 são melhores alunos do que os nascidos em 1996 e 1998. Uma segunda, à qual o Governo recorreu, baseia-se na afirmação de que foi o esforço do ME ao longo destes últimos 2/3 anos que permitiu atingir estas melhorias. Que fosse possível atingir melhorias, julgo que estamos de acordo. Mas menos de metade de negativas de um ano para o outro? Média de 90% de positivas? A última hipótese é dizer que os exames terão sido menos exigentes, por forma a que os alunos tivessem melhores notas. O próprio Presidente da Associação de Matemática, Nuno Crato, afirmou temer um “facilitismo progressivo” ao nível dos critérios dos exames. De facto, das três alternativas, esta parece ser a mais convincente para explicar esta súbita melhoria de resultados: menos exigência no conteúdo, um maior facilitismo nas questões colocadas e maiores proveitos políticos para o Governo.

De qualquer forma, Portugal não sobreviverá hoje como uma ilha isolada, considerando a sua integração num mundo globalizado. Assim, parece-nos que pouco interessam os nossos resultados internos, se não tivermos em consideração os dos outros países. O inquérito PISA (referência ao de 2006), que consiste em exames realizados a alunos dos países da OCDE com incidência nas áreas de literacia cientifica, literatura e matemática, revelou como Portugal está atrás dos demais países. Na literacia científica, para a média de 500 da OCDE, Portugal possuía 474 pontos, tendo evoluído de 28º para 27º em 30 países de 2003 para 2006. Na literatura, obteve uma média de 472 contra os 500 pontos da OCDE e evoluiu de 27º em 2003 para 24º em 2006. Na matemática, a média é de apenas 466 pontos, abaixo da OCDE, e tanto em 2003 como em 2006 Portugal ocupava o 26º lugar em 30 países.

São resultados que mostram uma realidade relativa muito mais importante que a absoluta revelada pelas provas de aferição. Além disso, os exames PISA são puramente independentes e iguais em todos os países. Provavelmente, o ME diria que “hoje” os resultados PISA em Portugal iriam melhorar 50%, se fossem realizados com estes alunos... Entendemos que em vez de continuar iludir as pessoas, é papel do Governo procurar resolver problemas estruturais da educação, em vez de passar a ideia de que tudo está bem quando isso não corresponde à realidade. Todos sabemos que, cegamente conduzidos ao abismo, um passo em frente não nos faz subir, mas sim cair de vez.