O Bom Senso no Terras do Ave

* Aqui encontra os artigos publicados no jornal vilacondense, Terras do Ave, escritos pelos autores d' O Bom Senso: Luís Soares e Nuno Miguel Santos*

Os textos são aqui publicados duas semanas após a sua publicação no jornal.

O Bom Senso

Jornal Terras do Ave

Publicado no Jornal de

15 junho, 2008

Desafios Actuais e Fundamentais

A recente eleição de Manuela Ferreira Leite para Presidente do PSD deixa-nos algo apreensivos quanto ao futuro de Portugal. Importa salientar que essa eleição parece excluir a alteração essencial ao nosso país dos paradigmas económico-sociais dos próximos anos. Os eventuais problemas irão, numa primeira fase (já iniciada), causar dramas sociais que só serão resolvidos com uma adaptação a um novo tipo de consumo energético que afectará a maneira como vivemos o dia-a-dia. Estamos, no entanto, optimistas quanto à resolução desses problemas a nível mundial que, como já aqui dissemos, é apenas uma questão de tempo.
A função do PSD (e dos restantes partidos) é a construção de uma estrutura de sociedade que seja capaz de aguentar, com sucesso, a pressão dos próximos anos e conseguir que essa estrutura tenha um potencial enorme para crescer nos anos que se seguirão. Teremos que aproveitar a mudança de ciclo económico-social para estarmos à frente no crescimento futuro. Isso nunca foi feito em Portugal, e aqui inclui-se a Primeira República, o Estado Novo de Salazar e o regime democrático pós-25 de Abril de 1974. Em todas estas oportunidades de adaptação a novos paradigmas, Portugal nunca se adaptou convenientemente, o que gerou rupturas sociais de longo-prazo. Neste último ciclo que estamos a viver perdemos a oportunidade de entrar na era do conhecimento com as nossas pessoas bem preparadas para esse dasafio. Não se apostou na educação e na formação de qualidade desde os 3 até aos 80 anos, a pensar em profissões de alta exigência de conhecimento. É verdade que o país evoluiu muito, mas foi uma evolução sem a construção dos pilares mais fortes: as pessoas que iriam manter a máquina a trabalhar. A culpa é de todos os Governos que foram eleitos por nós próprios. Não sabemos se será justo culpar o eleitor, mas este tem uma quota parte de responsabilidade. Mas a verdade é que os políticos tiveram várias hipóteses para seguir outro caminho e não o fizerem: ficaram pelo mais fácil.
E Manuela Ferreira Leite? Ela representa dentro do PSD esse passado de políticas “mais ou menos” certas, “mais ou menos” capazes de desenvolver o país, no fundo “mais ou menos” manter Portugal “a andar”, mas sem visão futura. Pior ainda com o PS que, quase sempre que governou, lá foi estragando o “mais ou menos” que estava feito. Partidos à parte, os métodos usados no passado não foram capazes de nos desenvolver no verdadeiro sentido da palavra. Vivemos melhor do que há 30 anos, mas é uma realidade insustentável: a nossa economia vive maioritariamente de indústrias sem futuro e serviços básicos, e existem elevadas carências sociais por resolver.
Não temos a certeza se Pedro Passos Coelho iria conseguir contribuir para melhorar a situação actual do país, mas entre todos os candidatos do PSD e apesar de se lhe exigir maior consistente nas ideias, parecia ser aquele que mais ciente estava de que o mundo mudou e os portugueses não. Estamos, com alguma preocupação, a assistir a uma viragem à esquerda do eleitorado por uma razão muito simples: os senhores desses partidos só têm coisas boas para oferecer, que se resumem a algo muito simples: “nós vamos ajudar quem está pior, prejudicando quem está melhor”. Como? Não dizem. Mas diz-nos a experiência do passado: fazem-no à força. Como resultado, ficamos todos pobres e ignorantes, mas contentes porque o vizinho não está melhor do que nós.
No mínimo há uma coisa que o PSD e o PS têm que fazer: abrir os olhos de quem se está a aproximar dos partidos que defendem essas políticas não realizáveis e fáceis de incutir a quem está em dificuldades. As sondagens recentes são preocupantes. Passando esse mínimo, há que encontrar líderes conscientes e com ideias concisas e estruturantes para o futuro. Ainda não foi desta…

Publicado no Jornal de

01 junho, 2008

Dinheiro para Marte ou para a Terra?

Num momento em que se fala em crise económica e social por todo o mundo (incluindo o desenvolvido), motivada pelos preços da energia que mantém a sociedade em “funcionamento”, ou pela escassez de alimentos, resultante do crescimento dos países em desenvolvimento (em particular, China e a Índia), e do seu uso para fins energéticos (biocombustíveis), pode parecer estranho querer-se aterrar naves em Marte.

Os dados conhecidos são: no dia 24 de Maio de 2008, uma pequena nave espacial sem tripulação aterrou no planeta vermelho, depois de ter feito uma viagem de cerca de 680 milhões de quilómetros em 9 meses: na hora certa, abriu o pára-quedas, ligou os pequenos reactores para a desaceleração e após uma viagem percorrida a 120.000 km/h, aterrou “calmamente” a cerca de 5 km/h, sem qualquer dano. Usou a pouca bateria que tinha para abrir dois “braços” com paineis solares que lhe fornecerão a energia para o futuro e logo a seguir enviou as primeiras fotos do solo em seu redor.

Este espectacular feito Humano surge da vontade intrínseca a cada um de nós de descobrir, de querer saber mais, de nunca estar satisfeito. Foi esta mesma vontade que levou ao desenvolvimento da sociedade em que vivemos, a qual tem evoluído a uma velocidade estonteante. A evolução é tão rápida que cada gerção de pessoas tem que se adaptar durante a sua vida aos novos parâmetros.

A nossa introdução a este artigo vem no sentido de impedir que se façam juízos de valor desvaforáveis ao investimento em investigação científica. Estes cientistas que estão a trabalhar neste projecto concreto vão aprender e até descobrir algo que poderá ser útil noutras áreas que não a astronomia. O objectivo de enviar uma nave a Marte não é apenas o de completar a viagem, mas o de desvendar o que poderá existir no planeta mais próxima da Terra que possa ser útil para os Humanos. É lógico que no presente é difícil prever que benefícios poderão ser retirados de um estudo como este. No entanto, olhando para a História, podemos concluír que a vontade de conhecer mais acaba sempre por benefeciar a Humanidade.

Os cerca de 500 milhões de dólares “gastos” neste projecto poderiam, sem dúvida, ser usados para enviar comida ou medicamentos para África, ou mesmo para prevenir alguma necessidade que surja com as crises que falamos anteriormente. Todavia, não é o dinheiro usado no desenvolvimento científico que deverá ser canalizado para resolver estes graves problemas. Seria possível, isso sim, recolher fundos verdadeiramente gastos para desenvolver os países mais pobres, e não apenas para os alimentar. A ciência de hoje pode garantir a nossa sobrevivência no futuro. A vontade de evoluír sempre fez parte da sociedade Humana, tendo acelerado desde há uns séculos; mas não pode parar. Este dinheiro é, definitivamente, para a Terra.