O Bom Senso no Terras do Ave

* Aqui encontra os artigos publicados no jornal vilacondense, Terras do Ave, escritos pelos autores d' O Bom Senso: Luís Soares e Nuno Miguel Santos*

Os textos são aqui publicados duas semanas após a sua publicação no jornal.

O Bom Senso

Jornal Terras do Ave

Publicado no Jornal de

15 abril, 2008

Os Jogos Olímpicos Paradoxais de 2008

As recentes manifestações que se verificaram em países europeus, aquando da passagem da chama olímpica pelas ruas das principais capitais, assim como as ocorridas nos EUA e noutros países, contra a realização dos Jogos Olímpicos na China, pecaram por não passar a mensagem correcta e completa.
Todos os protestos tiveram como base a ocupação do Tibete pela China. No entanto, essa é apenas uma das muitas razões pelas quais os jogos nunca deveriam ter sido organizados nesse país. Apesar de toda a censura e de todo o controlo de informação que é feito por parte do Governo comunista Chinês, são muito frequentes as notícias e reportagens de violações dos direitos humanos e das liberdades individuais que, muitas das vezes, são das mais primitivas que podem existir.
Os Jogos Olímpicos não são um mundial de futebol ou um campeonato do mundo de outro desporto qualquer. São, sim, um elemento que agrega todas as comunidades do planeta que, em paz e desportivamente, competem e festejam em conjunto. Sempre foram encarados como um símbolo positivo e, por vezes, politicamente usados para mostrar que países que não respeitam regras mínimas de humanidade, não têm lugar nesse espírito que é o dos Jogos.
A China é tudo menos um símbolo positivo. Não a comunidade chinesa, que pouco pode fazer para contrariar as circunstâncias em que vive, mas os seus governantes e os valores que estes defendem e praticam (literalmente).
Agora é tarde para querer boicotar os Jogos. O Comité Olímpico escolheu Pequim como a cidade anfitriã dos Jogos há vários anos atrás; e o erro deu-se aí. A China está a evoluir como sociedade, mas é uma evolução mentirosa e hipócrita. O que querem fazer transparecer não é aquilo que se acontece na realidade; é areia para os olhos das outras comunidades.
A causa do Tibete tem de ser defendida, mas a causa dos milhões de Chineses que não têm voz, nem sabem o que existe para além dos campos de arroz ou das fábricas onde os obrigam a trabalhar por “meia dúzia de tostões”, não pode ser esquecida. A verdade é que, e a História mostra-nos isso, os regimes deste tipo, cancerígenos, têm vida curta e morte anunciada.

Publicado no Jornal de

01 abril, 2008

Educação das Gerações Futuras

Quem conhece a realidade sabe muito bem que os problemas de indisciplina, desrespeito e, por vezes, violência não são novos nas escolas portuguesas. O destaque surge para os que envolvem Professores e Alunos e, a este propósito, a opinião pública mostrou-se indignada com o vídeo da Escola Carolina Michaelis, mas ao mesmo tempo surpresa com a situação.

Olhando o vídeo, apetece-nos dizer que Portugal bateu no fundo no que concerne à Educação, mas a verdade é que situações destas acontecem diariamente e, muitas vezes, de forma ainda mais violenta, quer fisica, quer psicologicamente, para o Professor. Somos um país com resultados que deixam muito a desejar (note-se, por exemplo, os resultados do inquérito PISA), onde se regista um afastamento dos jovens em relação à escola e onde, crescentemente, as regras básicas de convivência em sociedade são cada vez mais trespassadas.

Muitas vezes confunde-se o papel da escola com o papel dos pais. Mas ao contrário do que muitos possam pensar, a escola é sobretudo um local de ensino ou, por outras palavras, educação escolar. A verdadeira educação cabe, em primeira instância, aos pais – e, por acréscimo, à escola. Esta é a ordem natural e mais correcta de o sistema funcionar. Não obstante, os pais parecem ter-se demitido das suas responsabilidades. Quando antigamente estes eram os primeiros a dizer aos Professores que se os seus filhos se comportassem de forma incorrecta, eles lhe deveriam aplicar um castigo, hoje em dia são os primeiros a aplicar um castigo (ou pelo menos, a “pedir esclarecimentos”) aos Professores quando os seus filhos se comportarem indevidamente. É esta uma triste inversão na dita ordem natural das coisas. A mãe da aluna visada, em declarações ao Jornal de Notícias, mostrou-se “chocada e revoltada” com a actuação da filha, a qual “a melhor educação” no entender dos pais. Não pondo em causa as melhores intenções deles, o resultado está à vista de todos. Numa entrevista oportuna à SIC Notícias, Daniel Sampaio alertava para o facto de se ter que educar para “a responsabilidade e autonomia”. Este é um ponto central que deve orientar os pais.

O problema é grave e não fácil de resolver. Cremos, no entanto, que a solução deverá partir primeiro das famílias, sendo a escola um complemento da educação dos jovens. O Procurador Geral da República afirmou que se deveria actuar punitivamente neste caso porque do pequeno delito se evolui para o grande – defendendo a ideia de que na escola se desenvolvem gestos que trespassam para a sociedade como um todo. A afirmação é justa e faz todo o sentido, pelo que se espera um desfecho. De qualquer forma, duvidamos que a transferência da aluna para outro estabelecimento de ensino resolva a questão de fundo.

Mas o que mais nos preocupa é que esta situação, não pontual, evolua gradualmente num sentido negativo, isto porque as gerações actuais serão, obviamente, as futuras. Se tudo se mantiver sem que se dê uma mudança brusca, cabe-nos perguntar onde acabaremos. O futuro não cabe apenas a Deus. Depende também de nós, de cada um, individualmente. Hoje, e não, só amanhã.