O Bom Senso no Terras do Ave

* Aqui encontra os artigos publicados no jornal vilacondense, Terras do Ave, escritos pelos autores d' O Bom Senso: Luís Soares e Nuno Miguel Santos*

Os textos são aqui publicados duas semanas após a sua publicação no jornal.

O Bom Senso

Jornal Terras do Ave

Publicado no Jornal de

15 outubro, 2007

Professores na Rota do Desemprego

Todos os anos, 2007 não constituiu excepção, assistimos ao drama dos professores desempregados, nomeadamente dos recém-licenciados em cursos superiores que vão desde História, passando por Físico-Químicas, até à Matemática e Línguas.

Todos os anos, centenas de jovens obtêm uma licenciatura que não lhes dará nada mais do que desemprego ou emprego precário, não correspondente às suas habilitações literárias.

Como sociedade, interessa-nos saber de quem é a “culpa”. Só assim poderemos responsabilizar as instituições e, mais importante do que isto, encontrar soluções viáveis para este problema.

A profissão de professor é uma das mais importantes e essenciais para o futuro de uma sociedade. São os professores que passam mais tempo com as crianças e os jovens que constituirão a população activa das décadas vindouras. Um professor é um formador de pessoas. Isto, mais do que uma coisa “linda” e honrosa, é algo que exige muita competência e muita responsabilidade. Não é mandar uns “bitaites” na sala de aula e corrigir uns testes feitos à pressa e iguais todos os anos, para despachar, enquanto se espera pela “promoçãozinha” do ano seguinte. Pergunte-se a qualquer jovem e este terá imensas histórias de professores ou professoras que não cumprem os requisitos necessários para exercer essa profissão.

Isto para dizermos que optar por um curso que culmine na profissão de professor é uma opção com consequências não só para o indivíduo que a toma, mas também para os que vivem à sua volta. Dado que não podemos negar a liberdade de cada um escolher o seu curso, faria todo o sentido que existisse uma formação técnica para professores recém-licenciados, cuja avaliação incluísse critérios vocacionais.

Desta forma criar-se-ia um filtro que ajudaria a garantir que tivéssemos muitos mais professores dignos desse nome. Por outro lado, esse mesmo sistema obrigaria, porventura, a uma maior ponderação dos jovens aquando da tomada de decisão acerca do curso a seguir – originando uma diminuição das candidaturas. Esta diminuição teria um impacto positivo no mercado de trabalho dos professores, fazendo com que a oferta de trabalho por parte dos professores se aproxima-se da procura por parte do Estado ou das escolas privadas.

Voltando atrás a questão da “culpa”, devemos dizer em abono da verdade que esta não está concentrada em alguém em particular, mas repartida entre o Estado, a quem cabe organizar o acesso à carreira de professor, e os alunos (e seus pais) por não pesarem devidamente a probabilidade de caírem no desemprego logo após o término do seu curso superior.

A actual situação é desfavorável e assim continuará nos próximos anos. No entanto, esperar sentado não é solução, pelo que se impõem medidas como aquela que acima propomos ou outras que possam vir a surgir.

Publicado no Jornal de

01 outubro, 2007

Cobardia Diplomática

A recente visita do Dalai Lama ao território Português protagonizou uma série de teatros e hipocrisias por parte de algumas figuras das autoridades portuguesas, em jeito de repetição do sucedido no ano de 2001. Só o presidente da Assembleia da República o convidou para uma visita à AR.

O Dalai Lama, como líder espiritual que é, deve ser respeitado e mesmo valorizado por uma nação aquando da sua visita. Apesar de não ser um chefe de Estado, representa um povo e uma religião. O bom senso dita que, considerando os valores que a nossa sociedade defende e até (se quisermos ser mais formais), os princípios internacionais de respeito mútuo entre todos os povos, é um dever das autoridades receber com bom trato uma figura desta importância.

O que se verifica em Portugal (e noutros países) é um afastamento do Governo e outros órgãos de soberania destes princípios, devido a alegadas “pressões da China”. Recorde-se que os comunistas chineses invadiram o território do Tibete, passando este a ser uma província chinesa, contra a vontade dos tibetanos, em 1965. Nos anos seguintes existiram denúncias de violação dos direitos humanos naquele território e tentativas de destruir a cultura e religião tibetanas, obrigando o Dalai Lama a exilar-se na Índia.

Será então que o facto do Tibete não ser independente da China desde 1965 (depois de ser invadido) lhe nega o direito a ser respeitado por parte dos outros povos? Claramente, não.

Repare-se que isto ainda é mais caricato quando o Dalai Lama é um Nobel da Paz, representando muito mais do que a espiritualidade e a causa do Tibete.

A China não tem, nem pode ter, uma palavra a dizer em relação aos relacionamentos de Portugal com quem quer que seja, senão com ela própria. Receber o Dalai Lama não significa por si só defender a causa (justa) tibetana. No entanto, não o receber mostra um claro apoio à causa chinesa.

Por outro lado, e para piorar o cenário da não recepção ao Dalai Lama, várias figuras pertencentes a instituições políticas portuguesas receberam-no “informalmente” ou “a título particular”… Assim, com estas peças de teatro protagonizadas pelos nossos políticos às quais todos assistimos pela televisão, não é de admirar que os teatros estejam vazios...