O Bom Senso no Terras do Ave

* Aqui encontra os artigos publicados no jornal vilacondense, Terras do Ave, escritos pelos autores d' O Bom Senso: Luís Soares e Nuno Miguel Santos*

Os textos são aqui publicados duas semanas após a sua publicação no jornal.

O Bom Senso

Jornal Terras do Ave

Publicado no Jornal de

15 julho, 2007

Vote nas Autárquicas como se Votasse nas Legislativas!

A campanha para as eleições de Lisboa vai a todo o vapor e os candidatos desdobram-se em argumentos para captar o maior número de votos. Até aqui tudo bem; é legítimo que assim sejam. Afinal, é disso que se trata. O problema, parece-nos a nós, é quando os argumentos ultrapassam o bom senso que se impõe aos dirigentes partidários.

Se já a todos os membros dos partidos que participam activamente na política do país se “pedem” argumentos sensatos, aos dirigentes dos mesmos pedir-se-á responsabilidade e capacidade de dar o “exemplo”, quer ao povo em geral, quer aos outros políticos. São estes senhores que, no Governo, ou não, assumem a responsabilidade de governar Portugal. São os representantes máximos do nosso país e dos portugueses, pelo que sobre eles recai um grande peso. Quando pegamos num boletim de voto e fazemos uma cruz num partido estamos a mostrar a nossa confiança neles: que eles nos representarão devidamente.

Ora, quando vemos esses mesmos dirigentes a utilizarem argumentos que não contribuem para elucidar as pessoas, mas sim para gerar mais confusão, não podemos deixar de mostrar o nosso desagrado pela classe política portuguesa. As eleições autárquicas em nada têm a ver com as legislativas. A não ser o facto de os candidatos serem sempre os mesmos... Tal e qual da mesma forma que sabemos que o bacalhau não tem nada a ver com o bife, a não ser o facto de ambos serem comestíveis. Por isso, quando ouvimos Paulo Portas, Marques Mendes e Jerónimo de Sousa a dizerem que um voto no PS nas eleições em Lisboa é um voto no Governo, levamos as mãos à cabeça. Á falta de melhor, o que estes três senhores fazem é “argumentar sem argumentos”. É triste isto acontecer. Muitas vezes os menos atentos acabam por ser levados “na cantiga” e a votar nas autárquicas como se estivessem a votar nas legislativas!

Isto foi o que aconteceu com a rectificação do tratado da União Europeia, por exemplo, em França. Os franceses votaram no Tratado para expressar o desagrado para com o Governo, quando uma coisa não tem nada a ver com outra. O tratado acabou por não ir para a frente, já que a França é um dos pesos pesadas da UE, e todos acabamos por sair prejudicados (assim entendemos; vamos esperar pelos desenvolvimentos do suposto “Tratado de Lisboa”). Aquilo que os três dirigentes partidários fizeram foi dizer às pessoas para não olharam para António Costa (que até poderá ser bom presidente de câmara), mas sim para a actuação do Governo. Suponhamos, por instantes, que António Costa daria um excelente presidente de câmara. Se ele não ganhasse as eleições porque as pessoas votaram contra o Governo (contra o PS, entenda-se), Lisboa só teria a perder; o que não faz sentido algum (até podia fazer se fosse em Vila do Conde., mas não vamos entrar por aí...).

Publicado no Jornal de

01 julho, 2007

Os Ricos & A Desigualdade

Os maiores avanços humanos não estão nas suas descobertas, mas na forma como essas descobertas são aplicadas para reduzir a desigualdade. (...) Reduzir a desigualdade é o maior feito humano.” Estas palavras não são de Karl Marx. São de Bill Gates. E faz toda a diferença saber que o homem mais rico do mundo se preocupa com a necessidade de reduzir as diferenças entre pobres e ricos. Senão vejamos: os ricos parecem ser os adeptos mais ferrenhos do mercado livre, da “lei do mais forte”, onde tudo tem um fim exclusivamente próprio. Mas, então, porque razão estará Bill Gates (e outros, como Warren Buffett) empenhado em tal causa?

Se recorremos à História encontramos John D. Rockefeller. Rockfeller nasceu numa família relativamente pobre e singrou na vida. Mas porque na sua altura a repartição de rendimentos era ainda mais desigual do que nos dias de hoje, ele decidiu fazer caridade apoiando a educação e a saúde da sociedade (as áreas menos desenvolvidas). A questão volta a colocar-se: porque razão decidiu ele empenhar-se nessa causa? Rockefeller entendia que a erradicação da desigualdade era uma questão de sobrevivência e estabilidade. Para ele seria impossível continuar a manter-se (e a agravar-se) a grande desigualdade de bem-estar que existia na sociedade. A sobrevivência a longo prazo só seria possível com uma menor desigualdade. E a estabilidade social era também fundamental para os negócios: uma crise na classe operária (subnutrição ou analfabetismo acentuado) afectaria em muito a actividade económica.

Seguramente que os sindicatos, os grupos religiosos e os políticos socialistas contribuíram bastante para atenuar a desigualdade dos finais de 1800s. Mas os contributos dos aristocratas e bilionários foi crucial. Será que a Historia se irá repetir? Esperará Bill Gates, para além das contribuições em impostos (as quais, segundo dizem, visam uma melhor redistribuição de rendimento), espera deixar a sua marca e contribuir para a estabilidade social?

Existem, contudo, visões algo alternativas. A acção de Gates poderá ser altruísta, motivada por questões morais e humanitárias. Diz-se que só quem provou o amargo, sabe o que é o doce (e vice-versa). Talvez Gates, saboreando o doce, se tenha apercebido do amargo. A sua atitude pode ser igualmente encarada como uma forma de “limpar” a imagem de “homem mais rico do mundo” (certos indivíduos encaram-no com algum desprezo).

Mas de qualquer forma, e independentemente das motivações, as acções parecem valer por si. A sua posição, assim se espera, irá influenciar muitas individualidades em posição de dar um contributo importante para reduzir a desigualdade (seja com capital económico, cultural ou social). Mas uma certeza permanece: Bill Gates ficará para a História. Quer gostemos dele, quer não.