O Bom Senso no Terras do Ave

* Aqui encontra os artigos publicados no jornal vilacondense, Terras do Ave, escritos pelos autores d' O Bom Senso: Luís Soares e Nuno Miguel Santos*

Os textos são aqui publicados duas semanas após a sua publicação no jornal.

O Bom Senso

Jornal Terras do Ave

Publicado no Jornal de

15 junho, 2007

Repensar o Ambiente

Conversar com as pessoas no dia-a-dia permite perceber melhor, porventura, as suas ideias e opiniões sem ter que recorrer a uma explanação intelectual do assunto. A questão que trazemos a esta edição é a do aquecimento global. Começamos por afirmar que existem premissas básicas erradas a este propósito. Uma delas é considerar o petróleo como a fonte de energia principal e a energia do vento (por exemplo) como uma energia alternativa.

Talvez, quem sabe, uma pequena alteração de forma (e não de conteúdo) influenciasse a forma como as pessoas olham para esta questão: apesar do petróleo ser, efectivamente, a principal fonte de energia, nós devíamos passar a vê-lo como uma alternativa; caso contrário, arriscamo-nos a que tudo fique na mesma.

Dias destes, um simpático senhor dizia-nos que tinha visto na televisão que a Terra precisava qualquer alguma coisa como 140 anos sem qualquer poluição para voltar a uma situação ambiental favorável (não podemos confirmar esta afirmação). Até aqui tudo bem, não tivesse ele acrescentado de seguida: “Porra, 140 anos... Isso já não é do meu tempo...”. O eterno fado de quem olha apenas para o seu umbigo. Enquanto as pessoas não se consciencializarem do grave problema que é o aquecimento global, tudo permanecerá como até então. Não é suficiente os políticos apostarem na questão ambiental (na verdade, fazem-no pouco), se as pessoas não perceberem que têm de mudar de atitude. E isso passa por cada um de nós, individualmente.

Não devíamos necessitar de um Pai (Estado) para perceber isso: ou procuramos ser pessoas atentas, ou nunca atingiremos a “maturidade”. Como se percebe, procuramos não considerar a segunda hipótese. [Foi curioso notar, por exemplo, a adesão do público ao filme de Al Gore, “Uma Verdade Inconveniente”.] Ao partir de nós, a mudança influenciará inevitavelmente as empresas que não têm apostado devidamente nesta questão por lhes faltar procura de bens ditos ecológicos. Disse ainda o referido senhor: “O tempo está doido; chove, faz sol, está frio e depois quente. Eles andam lá preocupados com o aquecimento global...”. É disto que falamos.

Mas a verdade é que os Estados também não têm cumprido devidamente o seu papel, sobretudo os Estados Unidos e a China, poluidores assombrosos. A este propósito, Bush irá apresentar uma proposta aos 15 países mais poluidores para que se crie, a partir de 2012 (!), ano em que expira Quioto, uma nova estratégia ambiental que passa por uma forte aposta na tecnologia ecológica (esperamos os resultados). Por outro lado, não devemos esquecer que o mercado só funcionará quando existir uma procura (pessoas a consumirem energias alternativas por sua vontade) que leve ao aumento da oferta (dessas mesmas energias) e consequente redução de preços.

Publicado no Jornal de

01 junho, 2007

Em Nome do Partido

A recente crise na Câmara Municipal de Lisboa veio, porventura, reforçar a lacuna da qualidade e de orientação dos objectivos dos políticos portugueses. José Sócrates teve o desplante de substituir um membro do Governo, membro que ele próprio afirma ter excelentes qualidades, para que este pudesse candidatar-se à presidência de uma autarquia. Autarquia essa que parece ser a única com relevância nacional: todos os meios se concentram na eleição do seu presidente.

O PS escolhe, então, António Costa; o PSD chama, sem sucesso, Fernando Seara (sem atender aos efeitos para Sintra da sua saída da câmara) e o PP anuncia Telmo Correia como candidato, com Paulo Portas a aproveitar a oportunidade para procurar lançar uma nova imagem do partido (que poderá ser nova, menos ele).

Mas a decisão de Sócrates, como primeiro-ministro e secretário-geral do PS, esconde uma concepção que não pode vingar numa democracia de qualidade: o poder está sempre à frente do bem comum. António Costa era Ministro da Administração Interna e de Estado; liderava uma mudança estratégica nas forças de segurança, defendida pelo PS como crucial para o futuro de Portugal. Por mais que o Governo procure realçar a importância de tais mudanças, as suas acções dizem-nos tudo: no fundo, o importante para o PS (e provavelmente para os outros partidos nacionais, caso fossem Governo) é a continuidade dos seus membros e restante estrutura em cargos onde exerçam poder [o PSD propôs a redução do número de deputados para 180; o PS veio dizer que isso acarreta problemas de pluralidade...].

Isto revolta seguramente aqueles que cumpriram o dever de votar para a eleição destas pessoas, mesmo que o seu voto não tivesse sido socialista, como foi o nosso caso. A verdade é que vivemos num país em que as pessoas temem quem manda e aqueles que mandam têm noção disso. Em política, o objectivo de quem governa é, diz-se, “cumprir a vontade e as ordens” de quem lhe concedeu o mandato. No entanto, os interesses “partidário-pessoais” parecem estar sempre em primeiro plano e povo, inevitavelmente (!), resigna-se ao que está instituído. Quando Durão Barroso aceitou o convite para Presidente da União Europeia, poderiam estar em causa interesses pessoais, mas existia um interesse nacional. Com António Costa, para além dos interesses pessoais, existem interesses meramente partidários. E isso é que está errado.

No actual sistema político, a verdade é que os indivíduos com qualidades para governarem e liderarem ou ficam encravadas na base dos partidos, ou nem se sentem motivados a participar na vida política por não se quererem subjugar aos interesses instalados para se chegar “lá cima”. No entanto, só com uma grande “infiltração” de pessoas competentes e honestas nos seios dos partidos a situação se poderá inverter.