O Bom Senso no Terras do Ave

* Aqui encontra os artigos publicados no jornal vilacondense, Terras do Ave, escritos pelos autores d' O Bom Senso: Luís Soares e Nuno Miguel Santos*

Os textos são aqui publicados duas semanas após a sua publicação no jornal.

O Bom Senso

Jornal Terras do Ave

Publicado no Jornal de

01 junho, 2007

Em Nome do Partido

A recente crise na Câmara Municipal de Lisboa veio, porventura, reforçar a lacuna da qualidade e de orientação dos objectivos dos políticos portugueses. José Sócrates teve o desplante de substituir um membro do Governo, membro que ele próprio afirma ter excelentes qualidades, para que este pudesse candidatar-se à presidência de uma autarquia. Autarquia essa que parece ser a única com relevância nacional: todos os meios se concentram na eleição do seu presidente.

O PS escolhe, então, António Costa; o PSD chama, sem sucesso, Fernando Seara (sem atender aos efeitos para Sintra da sua saída da câmara) e o PP anuncia Telmo Correia como candidato, com Paulo Portas a aproveitar a oportunidade para procurar lançar uma nova imagem do partido (que poderá ser nova, menos ele).

Mas a decisão de Sócrates, como primeiro-ministro e secretário-geral do PS, esconde uma concepção que não pode vingar numa democracia de qualidade: o poder está sempre à frente do bem comum. António Costa era Ministro da Administração Interna e de Estado; liderava uma mudança estratégica nas forças de segurança, defendida pelo PS como crucial para o futuro de Portugal. Por mais que o Governo procure realçar a importância de tais mudanças, as suas acções dizem-nos tudo: no fundo, o importante para o PS (e provavelmente para os outros partidos nacionais, caso fossem Governo) é a continuidade dos seus membros e restante estrutura em cargos onde exerçam poder [o PSD propôs a redução do número de deputados para 180; o PS veio dizer que isso acarreta problemas de pluralidade...].

Isto revolta seguramente aqueles que cumpriram o dever de votar para a eleição destas pessoas, mesmo que o seu voto não tivesse sido socialista, como foi o nosso caso. A verdade é que vivemos num país em que as pessoas temem quem manda e aqueles que mandam têm noção disso. Em política, o objectivo de quem governa é, diz-se, “cumprir a vontade e as ordens” de quem lhe concedeu o mandato. No entanto, os interesses “partidário-pessoais” parecem estar sempre em primeiro plano e povo, inevitavelmente (!), resigna-se ao que está instituído. Quando Durão Barroso aceitou o convite para Presidente da União Europeia, poderiam estar em causa interesses pessoais, mas existia um interesse nacional. Com António Costa, para além dos interesses pessoais, existem interesses meramente partidários. E isso é que está errado.

No actual sistema político, a verdade é que os indivíduos com qualidades para governarem e liderarem ou ficam encravadas na base dos partidos, ou nem se sentem motivados a participar na vida política por não se quererem subjugar aos interesses instalados para se chegar “lá cima”. No entanto, só com uma grande “infiltração” de pessoas competentes e honestas nos seios dos partidos a situação se poderá inverter.