O Bom Senso no Terras do Ave

* Aqui encontra os artigos publicados no jornal vilacondense, Terras do Ave, escritos pelos autores d' O Bom Senso: Luís Soares e Nuno Miguel Santos*

Os textos são aqui publicados duas semanas após a sua publicação no jornal.

O Bom Senso

Jornal Terras do Ave

Publicado no Jornal de

15 janeiro, 2007

Liquidação Total no Pão: Pague 6, Leve 5!

É mais que certo o aumento de 20% no preço do pão. A unidade passaria de 10 para 12 cêntimos, o que, na prática, significa que por cada 5 pães o consumidor perde 1. Tal aumento tem sido justificado com o escalada do preço dos combustíveis, que fazem parte da cadeia de valor da panificação, e pelo facto de o preço do pão não ser revisto há três anos – podendo as suas matérias-primas terem sofrido o efeito da inflação ao longo dos mesmos (caso do trigo).

Se o aumento dos preços dos combustíveis é um facto verificado, restam dúvidas quanto ao aumento sistémico e sistemático dos preços dos ingredientes. Não se deverá deixar de ter em conta que a inflação é o aumento generalizado do preço a que convencionalmente se designa por “cabaz de consumo representativo” que pretende ser um indicador, para um consumidor médio, do aumento verificado nos preços durante um certo período. Muito provavelmente, nem todos os ingredientes utilizados no fabrico do pão constam do cabaz por onde se mede a inflação. Admitindo uma inflação irrealista de 5% ao ano (ela tem rondado os 2%), durante os tais três anos, isso significaria um aumento total de 15,76%. Este valor é claramente inferior ao aumento previsto, o que nos leva a duvidar da sua validade.

Segundo cálculos que fizemos, para uma família que consuma uma média de 15 pães por dia, um aumento de 20% no preço do pão significará um custo adicional de €108 /ano (o custo passa de €540 para €648 anuais). Como já fizemos menção num artigo anterior (vd 15.11.06), ainda que o custo adicional absoluto seja igual para todas as famílias (€108), em termos relativos quem perde mais são aqueles com rendimentos menores. E, no caso de um bem essencial como o pão, é necessário ter em conta os efeitos nefastos de um possível aumento nos que têm rendimentos inferiores. Assim, para uma família com rendimento mensal de cerca de €800 (2 salários mínimos), o peso relativo do custo do pão passará de 4,82% (10 cêntimos por pão) para 5,79% (12 cêntimos).

Esta proposta “parece” não ter muito sentido e não ser consentânea com a actual conjuntura económico-social. Por outro lado, era bom que se esclarecesse quais os argumentos inerentes ao cálculo do 20%, e não apenas “atirar esse valor para o ar”, sobretudo quando a qualidade do pão não está deveras assegurada. Ainda de salientar é o facto de se comprar pão, por exemplo, em Trás-os Montes a metade do preço do praticado no litoral, em locais onde a deslocação entre terras acarreta elevados custos de combustível.

Aproveitando o tema do último artigo (a procura de cura para o cancro), fique o leitor a saber que, segundo um estudo do Instituto de Farmacologia Italiano “Mário Negri”, as pessoas que consumem bastante pão duplicam o risco de desenvolver cancro nos rins. [Será que o cálculo dos 20% já tem em conta isto? ...]