O Bom Senso no Terras do Ave

* Aqui encontra os artigos publicados no jornal vilacondense, Terras do Ave, escritos pelos autores d' O Bom Senso: Luís Soares e Nuno Miguel Santos*

Os textos são aqui publicados duas semanas após a sua publicação no jornal.

O Bom Senso

Jornal Terras do Ave

Publicado no Jornal de

15 fevereiro, 2006

A Nova Evolução da Política Portuguesa

Não há dúvidas de que a classe política portuguesa é vista, em geral, como ineficiente, “tachista” (no sentido da “caça ao tacho”) e até sugadora dos impostos pagos pelos contribuintes. Também não há dúvidas de que existem razões legítimas para que se pense assim. As gerações que hoje vivem no nosso país conheceram vários regimes e todos eles sofreram deste tipo de acusações e, muitas vezes, foram merecedores disso mesmo. Hoje em dia não é diferente, chegando-nos pela comunicação social histórias de corrupção, ajudas aos “amigos” ou fuga às responsabilidades.

A crítica à classe política tem, então, alguma razão de ser. Repare-se que o 25 de Abril foi uma porta aberta de esperança para uma renovação na política, mas foi uma porta por onde entraram muitas pessoas que não fizeram jus a essa esperança. Saía-se de um regime de direita autoritária e o lema (fomentado pelos anos de carência de liberdade) era o de mudança radical. E esse foi o nosso problema: a esquerda autoritária aproveitou a onda de descontentamento para se impor na sociedade a todos os níveis. Felizmente, essa esquerda (comunistas, socialistas revolucionários, etc.) não se conseguiu impor como esperava. No entanto, a sua influência negativa prevalece até hoje e caracteriza-se principalmente pela viragem à esquerda de todos os partidos nacionais, ou seja, cada partido teve que ceder a algumas ideias de esquerda para poder obter votos. Muita gente esteve no 25 de Abril ao lado do PCP ou do MRPP mas, mais tarde, percebeu que estava do lado errado: Portugal queria liberdade, não queria mudar de um regime autoritário para outro. No entanto, os partidos mais liberais não conseguiram afirmar-se com esse seu cariz, tendo-se a política portuguesa tornado num leque de partidos “estadistas”.

O CDS foi um partido “envergonhado” por ser associado a Salazar, o PPD mudou o nome para PSD para ficar melhor na “fita”, quando na verdade não defende uma social-democracia verdadeira e o PS, um partido que defende nos seus estatutos a social-democracia, chegou-se à esquerda mais “socialista” – no sentido autoritário. Ficou-se com a ideia de que só a esquerda poderia defender os “trabalhadores” e os menos afortunados e que direita significava Salazar, capitalismo selvagem, defesa do patronato e exploração de uns em benefício de outros. Nada disto é verdade. Essa foi a direita abusiva de Salazar. Nem o CDS nem o PPD/PSD conseguiram mostrar isso aos portugueses. Teve que ser o PS a fazê-lo agora, com Sócrates. Porquê? Porque sendo o PS a virar mais à direita (liberal, desta vez) as pessoas não têm quem atacar.

Quando Durão ou Santana tentaram fazê-lo as pessoas associaram essa atitude, novamente, ao capitalismo selvagem. Sócrates está a tomar as medidas que um social-democrata deve tomar e é esse o papel do PS (no qual não nos identificamos). Este é um passo que permitirá ao PSD e ao CDS ocuparem o seu verdadeiro lugar. Os portugueses estão a perceber que nem as utopias de direita nem as de esquerda são a solução.

A solução é a iniciativa individual. Somos nós a trabalhar para o país e não o Estado a dizer o que devemos fazer para o país prosperar. Os humanos têm individualidade, não são “fantoches”. O Estado é apenas um moderador da actividade dos indivíduos. O seu papel social é importante mas não pode ser excessivo ao ponto de limitar a liberdade das pessoas: falamos de impostos excessivos, de limitação na escolha de escolas e hospitais, na burocracia e em tudo aquilo que nos faz olhar para o Estado como um papão em vez de um apoio.

Publicado no Jornal de

01 fevereiro, 2006

Os Novos "Domingueiros"

Quem nunca assistiu, ou até mesmo participou, numa daquelas peregrinações aos centros comerciais, num entediante Domingo à tarde?
Não fosse esta uma pergunta retórica e muitos responderiam afirmativamente. De facto, estas eufóricas ‘debandadas’ ao (como muitos chamam) “chópe” (perdoem-nos a sinceridade) emanam da crescente interiorização do consumismo irracional na vida das pessoas. Não que o acto de consumir seja errado; não é isso que está em questão. O problema prende-se com a falta de competência na gestão financeira do orçamento do agregado familiar, que, quer se queira, quer não, põe, ao mesmo tempo, em causa a educação dos (nossos) filhos.
E este é um ponto fundamental, porque sendo os pais irresponsáveis, como poderão ser eles responsáveis pelos seus filhos e como garantirão que estes sejam responsáveis no futuro? Forma-se assim um ciclo vicioso, onde pais irresponsáveis geram futuros pais igualmente irresponsáveis, com as devidas excepções.
A sensação que se tem ao ver aquelas crianças e jovens entaladas no meio da multidão, que compete pelo melhor par de sapatos ou pela camisola mais ‘in’ ao menor preço, é de profunda tristeza.
Qualquer pessoa que, por casualidade, tenha que passar num Domingo à tarde na proximidade, por exemplo, do Nassica ou do Norteshopping, mesmo sem a intenção/necessidade de lá entrar, testemunha a vivacidade com que famílias e mais famílias se deslocam para o cumprimento do ritual de Domingo. O tradicional “domingueiro”, aselha na condução e parolo na ornamentação, tem vindo a ser substituído, a passos largos, pelo novo “domingueiro”, qual novo rico, que leva orgulhosamente a família num longo passeio pelo... shopping.

Numa altura em que, cada vez mais, os pais têm (ou parecem ter) menos tempo/disponibilidade para os filhos, a escolha de passar o único dia da semana inteiramente livre num antro exíguo com cheiros por vezes insuportáveis, onde os olhares suscitam as mais variadas ‘sensações’, como a inveja, a sensualidade, o egoísmo ou o exibicionismo (dos mais peneirentos), revela uma sociedade com que não nos conformamos.
Não lhe parece melhor, a si que nos está a ler, que um Domingo em família, em casa ou fora dela, mas EM FAMÌLIA, onde se possam conhecer novos lugares, ‘viver novas experiências’ em conjunto, partilhar até experiências passadas - fomentando e enriquecendo a ligação entre gerações, é uma melhor opção? Coisas tão simples e insignificantes (?) como dar um passeio na praia, ver um filme em família, ler um livro ou jogar um jogo...

Alguns dirão: “Isso é uma mariquice! É só palavreado e ‘falinhas mansas’...”. Mas não serão esses que se orgulham de nunca terem pegado no filho ao colo? Outros dirão: “Estes dois jovens parecem uns cotas!” E outros dirão ainda: “Não é a juventude que me vai dar lições. Era só o que faltava.”
No entanto, estamos certos que muitos outros concordarão que algo vai muito mal nesta sociedade descontrolada. Porque mais liberdade implica maior responsabilidade, e muitos portugueses ainda não são capazes de lidar com isso.