O Bom Senso no Terras do Ave

* Aqui encontra os artigos publicados no jornal vilacondense, Terras do Ave, escritos pelos autores d' O Bom Senso: Luís Soares e Nuno Miguel Santos*

Os textos são aqui publicados duas semanas após a sua publicação no jornal.

O Bom Senso

Jornal Terras do Ave

Publicado no Jornal de

01 fevereiro, 2006

Os Novos "Domingueiros"

Quem nunca assistiu, ou até mesmo participou, numa daquelas peregrinações aos centros comerciais, num entediante Domingo à tarde?
Não fosse esta uma pergunta retórica e muitos responderiam afirmativamente. De facto, estas eufóricas ‘debandadas’ ao (como muitos chamam) “chópe” (perdoem-nos a sinceridade) emanam da crescente interiorização do consumismo irracional na vida das pessoas. Não que o acto de consumir seja errado; não é isso que está em questão. O problema prende-se com a falta de competência na gestão financeira do orçamento do agregado familiar, que, quer se queira, quer não, põe, ao mesmo tempo, em causa a educação dos (nossos) filhos.
E este é um ponto fundamental, porque sendo os pais irresponsáveis, como poderão ser eles responsáveis pelos seus filhos e como garantirão que estes sejam responsáveis no futuro? Forma-se assim um ciclo vicioso, onde pais irresponsáveis geram futuros pais igualmente irresponsáveis, com as devidas excepções.
A sensação que se tem ao ver aquelas crianças e jovens entaladas no meio da multidão, que compete pelo melhor par de sapatos ou pela camisola mais ‘in’ ao menor preço, é de profunda tristeza.
Qualquer pessoa que, por casualidade, tenha que passar num Domingo à tarde na proximidade, por exemplo, do Nassica ou do Norteshopping, mesmo sem a intenção/necessidade de lá entrar, testemunha a vivacidade com que famílias e mais famílias se deslocam para o cumprimento do ritual de Domingo. O tradicional “domingueiro”, aselha na condução e parolo na ornamentação, tem vindo a ser substituído, a passos largos, pelo novo “domingueiro”, qual novo rico, que leva orgulhosamente a família num longo passeio pelo... shopping.

Numa altura em que, cada vez mais, os pais têm (ou parecem ter) menos tempo/disponibilidade para os filhos, a escolha de passar o único dia da semana inteiramente livre num antro exíguo com cheiros por vezes insuportáveis, onde os olhares suscitam as mais variadas ‘sensações’, como a inveja, a sensualidade, o egoísmo ou o exibicionismo (dos mais peneirentos), revela uma sociedade com que não nos conformamos.
Não lhe parece melhor, a si que nos está a ler, que um Domingo em família, em casa ou fora dela, mas EM FAMÌLIA, onde se possam conhecer novos lugares, ‘viver novas experiências’ em conjunto, partilhar até experiências passadas - fomentando e enriquecendo a ligação entre gerações, é uma melhor opção? Coisas tão simples e insignificantes (?) como dar um passeio na praia, ver um filme em família, ler um livro ou jogar um jogo...

Alguns dirão: “Isso é uma mariquice! É só palavreado e ‘falinhas mansas’...”. Mas não serão esses que se orgulham de nunca terem pegado no filho ao colo? Outros dirão: “Estes dois jovens parecem uns cotas!” E outros dirão ainda: “Não é a juventude que me vai dar lições. Era só o que faltava.”
No entanto, estamos certos que muitos outros concordarão que algo vai muito mal nesta sociedade descontrolada. Porque mais liberdade implica maior responsabilidade, e muitos portugueses ainda não são capazes de lidar com isso.