O Bom Senso no Terras do Ave

* Aqui encontra os artigos publicados no jornal vilacondense, Terras do Ave, escritos pelos autores d' O Bom Senso: Luís Soares e Nuno Miguel Santos*

Os textos são aqui publicados duas semanas após a sua publicação no jornal.

O Bom Senso

Jornal Terras do Ave

Publicado no Jornal de

01 novembro, 2005

«Afinal Qual é o Currículo daquele Tipo?»

- “perguntou Soares aos seus camaradas [quando Cavaco Silva conquistou a liderança do PSD na Figueira da Foz]. Mas a frase saiu na imprensa. (…) Cavaco registou a advertência de Soares: ‘Apesar do meu ar bonacheirão, não pense que me vem moldar às suas exigências ou que lhe vou fazer jeitos’.”1

Depois de uma convivência atribulada, Cavaco Silva e Mário Soares vão agora disputar directamente o cargo de Presidente da República Portuguesa. Já muito foi dito sobre este encontro de “velhos” “rivais”, dadas as suas conhecidas desavenças político-partidárias e institucionais. Interessa, por isso mesmo, recordar o passado para perspectivar o futuro.

As diferenças de personalidade entre Cavaco e Soares são muito vincadas e foram decisivas nas atitudes que tiveram enquanto governantes. Cavaco é conhecido por ser sério, trabalhador e discreto. Soares, por outro lado, parece mais “afável” e comunicador mas tem um ar mais altivo, a roçar o “prepotente”. Cavaco caracteriza Mário Soares como “um político corajoso e hábil, perito nos jogos politico-partidários, pouco preocupado com questões de coerência e pouco conhecedor das matérias concretas da Governação, muito determinado na realização dos seus objectivos políticos pessoais (…).”2 Por seu turno, Soares diz que Cavaco “é uma pessoa inteligente, racional, distante, astuto e com alguma capacidade de encaixe [seja lá o que isto queira dizer…], mas nada imprevisível”.1

Quando Cavaco diz, “não prescindo do poder que a Constituição me confere, mas espero nunca ter razões para usar (esses) poderes muito extraordinários”3 tem em mente a experiência que viveu como primeiro-ministro, sendo Soares o Presidente. E uma coisa é certa: estes dois homens sabem bem o que significa o poder deste cargo: Cavaco porque o sentiu e Soares porque o praticou. Diz o primeiro: “(…) depois de ter suportado o ónus da impopularidade provocada pelo processo de discussão e aprovação das medidas, [o Governo] via [as mesmas] serem vetadas pelo PR ou declaradas inconstitucionais por uma votação de sete contra seis juízes do Tribunal Constitucional, o que era indício de uma apreciação jurídica eivada de um certo cunho político”.4
Como frisa João Guerra, “Soares usou sucessivamente o veto a diplomas do Governo, criticou em mensagem ao parlamento a ‘governamentalização da TV’, acolheu em Belém todos os queixosos da política do Governo em nome do ‘direito à indignação’, (…) acusou o Executivo de encaminhar o país para ‘uma forma larvar de ditadura da maioria’”1, entre muitas outras acções.

O passado destes homens leva-nos a concluir que a seriedade de Cavaco sempre foi superior à de Soares e, por isso, o primeiro está em melhores condições para presidir Portugal. O problema não está tanto na idade de Soares, mas sim, “na idade das ideias que defende (…) que nada têm a ver com o futuro e, muito menos, com os portugueses”5, na sua falta de coerência e na sua atitude demasiado altiva (e muitas vezes confusa).

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1 João Guerra, Diário Económico, 20/10/05
2 Cavaco Silva, Aníbal – Autobiografia Política, Círculo de Leitores, 2002, pág. 74
3 Conferência de Imprensa de Cavaco Silva, 20/10/05, CCB
4 Cavaco Silva, Aníbal – Autobiografia Política II, Temas & Debates, 2004, pág. 416
5 Helena Matos, Público, 30/07/05