O Bom Senso no Terras do Ave

* Aqui encontra os artigos publicados no jornal vilacondense, Terras do Ave, escritos pelos autores d' O Bom Senso: Luís Soares e Nuno Miguel Santos*

Os textos são aqui publicados duas semanas após a sua publicação no jornal.

O Bom Senso

Jornal Terras do Ave

Publicado no Jornal de

01 julho, 2005

Um Racismo Hipócrita

Quem viu o que aconteceu na praia de Carcavelos não pôde deixar de ser invadido por perguntas como: “Em que país sul-americano é que estamos?”; “Será que isto é criminalidade organizada?”; “Mas não eram mesmo só negros a participar no ‘arrastão’?”

À parte do contestável número de 500 delinquentes, agora 50 ou 100 (segundo os dados da PSP), este acto de vandalismo levanta problemas de índole social e de integração étnica.
Este assunto tem sido tratado com demasiada hipocrisia, o que reflecte a coacção social existente quando se trata de criticar e abordar os problemas relacionados com pessoas de etnia distinta. O leitor pode imaginar a dificuldade inerente à redacção de um artigo em que se tenha de falar de pessoas que apenas tenham cor de pele diferente, sem supostamente “ofender” as mesmas. Senão vejamos: porque é que quando queremos falar dos negros, e já não dizemos pretos (para não chocar ninguém, embora não haja razões para tal), lhes chamamos africanos? Afinal os africanos são os naturais de África ou todos os de pele escura? Caímos nesta incongruência, que só revela a nossa hipocrisia em nos considerarmos racistas ou xenófobos, só por lhes chamarmos pretos, quando eles também nos chamam brancos (e não europeus) e nós não tomamos isso como uma ofensa.

Sampaio na Cova da Moura



Esta é a grande causa dos problemas sociais de que sofrem os negros portugueses. Quando um negro assalta um supermercado: “Ai desgraçado que é africano!”; quando um negro não tem aproveitamento escolar: “Ai coitado que é africano!”. O receio de sermos considerados racistas pelos outros, leva-nos a tolerar, e mesmo a aceitar, comportamentos que não acharíamos correctos para um branco. Ora, isto não faz sentido. Se somos todos iguais, todos deveríamos ser tratados de igual forma para o bem e para o mal: tendo os mesmos direitos e respeitando os mesmos deveres. A culpa não é dos angolanos, ou dos moçambicanos, ou dos chineses, ou dos ucranianos, mas sim, das inadequadas políticas de integração social que adoptamos no passado para com todos eles, negros ou não.

Por esta razão, temos bairros problemáticos como a “Cova da Moura”, o “6 de Maio” ou o “Estrela de África”, onde o tráfico de droga é sistemático, onde se sente a exclusão social e se gera a revolta e onde as oportunidades de uma vida melhor são reduzidas. Um Estado de Direito deve proporcionar a todos os seus cidadãos as mesmas oportunidades de ter uma vida de bem-estar, quer eles as queiram aproveitar ou não. O problema é que nestes casos, mesmo que haja essa vontade, essas oportunidades são diminutas ou não existem.

Neste sentido, iniciativas como a visita de Jorge Sampaio à “Cova da Mora”, em que se tratou do tema da requalificação urbana do bairro em vez de se falar na requalificação dos seus habitantes (e onde o presidente deu o pontapé de saída num jogo de futebol entre moradores e agentes da PSP…), só servem para acalmar o nervosismo do Bloco de Esquerda e para “atirar areia para os olhos das pessoas”, dando a aparência de que está tudo bem e que “favelas só há no Brasil”.
Nota: A partir desta edição passamos a pôr à disposição os nossos e-mails, caso algum leitor pretenda dar sugestões ou comentar os nossos artigos.
luismsoares@hotmail.com
nmiguelsantos@hotmail.com

Luís Soares
Nuno Miguel Santos