O Bom Senso no Terras do Ave

* Aqui encontra os artigos publicados no jornal vilacondense, Terras do Ave, escritos pelos autores d' O Bom Senso: Luís Soares e Nuno Miguel Santos*

Os textos são aqui publicados duas semanas após a sua publicação no jornal.

O Bom Senso

Jornal Terras do Ave

Publicado no Jornal de

15 novembro, 2005

Quando e Quem Resolverá o Problema dos Transportes Públicos?


Quais os requisitos para que uma cidade providencie aos seus habitantes bem-estar, comodidade e vontade de lá viverem e/ou trabalharem? Ou seja, de que falamos quando dizemos que uma cidade é desenvolvida?

O que nos vem à cabeça em primeiro lugar são hospitais de qualidade, escolas que, para além de ensinarem, formem cívica e moralmente os alunos, instituições – serviços camarários, correios, etc. – que funcionem eficazmente assegurando os direitos e necessidades dos seus cidadãos, agradáveis espaços de lazer e – o tema deste nosso artigo – uma rede de transportes públicos eficiente e de qualidade.

Quantos de nós já não se depararam com situações mais ou menos caricatas e absurdas quando fazemos viagens nos autocarros que servem a população vilacondense? É do conhecimento (e experiência) de todos que as condições deste serviço são deploráveis e até indignas num país que se diz desenvolvido. É até curioso (ou não) que as pessoas se sujeitem a estas condições. Ou não, porque se atendermos ao facto de que muitos dos vilacondenses que vivem nas aldeias da periferia do Concelho, não têm outro meio de transporte disponível para se deslocarem à cidade, só lhes resta a hipótese de se submeterem a estas circunstâncias. Não nos podemos também esquecer dos muitos estudantes que, inevitavelmente, são obrigados a circular diariamente nestas lastimosas ‘carroçarias ambulantes’.

Lugares sentados desconfortáveis e danificados, avarias frequentes a meio do percurso, mau aspecto interior e exterior, horários e carreiras insuficientes que obrigam as pessoas a parecerem “sardinhas enlatadas” nas horas de ponta (principalmente nas escolas) ou nos dias de feira, alguns motoristas que não inspiram muita confiança e algumas paragens quase impossíveis de identificar são várias das pobrezas caracterizadoras do serviço de transportes públicos rodoviários de Vila do Conde. Não obstante estas carências, ainda nos presenteiam com preços desproporcionais à qualidade do serviço. Qual será o custo de manutenção de tão ‘maravilhosas máquinas’? Encher os pneus e atestar com gasóleo? …


Mas, mais uma vez, parece que o povo não tem uma opinião “oficial” sobre o assunto, ou seja, toda a gente se queixa mas ninguém faz nada para que a coisa mude. Ou melhor, talvez alguns tentem mas a sua voz não é ouvida. E neste caso não estamos a falar de criticar os serviços do Estado (que esses são tema para muitos outros artigos); estamos, sim, a falar de serviços prestados por empresas independentes. Sendo assim, era de esperar que o mercado funcionasse e as empresas tivessem que prestar um melhor serviço fruto do descontentamento dos seus clientes. No entanto, visto que não há concorrência (saudável e bem-vinda), há uma falha de mercado. Consequência: os clientes são vítimas do monopólio e não vêem o seu serviço melhorado. Solução: liberalizar mais o mercado e atrair novas empresas para competirem com as actuais de forma a que os preços baixem, a qualidade do serviço aumente e a satisfação dos clientes seja garantida.

Nota: Esperamos, e muitos alunos também, que as transportadoras vilacondenses sejam sensíveis e se esforcem por melhorar o horário dos serviços prestados nas escolas, para cobrirem por completo as mais importantes horas de entrada e saída de alunos.
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Luis Soares
Nuno Miguel Santos

Publicado no Jornal de

01 novembro, 2005

«Afinal Qual é o Currículo daquele Tipo?»

- “perguntou Soares aos seus camaradas [quando Cavaco Silva conquistou a liderança do PSD na Figueira da Foz]. Mas a frase saiu na imprensa. (…) Cavaco registou a advertência de Soares: ‘Apesar do meu ar bonacheirão, não pense que me vem moldar às suas exigências ou que lhe vou fazer jeitos’.”1

Depois de uma convivência atribulada, Cavaco Silva e Mário Soares vão agora disputar directamente o cargo de Presidente da República Portuguesa. Já muito foi dito sobre este encontro de “velhos” “rivais”, dadas as suas conhecidas desavenças político-partidárias e institucionais. Interessa, por isso mesmo, recordar o passado para perspectivar o futuro.

As diferenças de personalidade entre Cavaco e Soares são muito vincadas e foram decisivas nas atitudes que tiveram enquanto governantes. Cavaco é conhecido por ser sério, trabalhador e discreto. Soares, por outro lado, parece mais “afável” e comunicador mas tem um ar mais altivo, a roçar o “prepotente”. Cavaco caracteriza Mário Soares como “um político corajoso e hábil, perito nos jogos politico-partidários, pouco preocupado com questões de coerência e pouco conhecedor das matérias concretas da Governação, muito determinado na realização dos seus objectivos políticos pessoais (…).”2 Por seu turno, Soares diz que Cavaco “é uma pessoa inteligente, racional, distante, astuto e com alguma capacidade de encaixe [seja lá o que isto queira dizer…], mas nada imprevisível”.1

Quando Cavaco diz, “não prescindo do poder que a Constituição me confere, mas espero nunca ter razões para usar (esses) poderes muito extraordinários”3 tem em mente a experiência que viveu como primeiro-ministro, sendo Soares o Presidente. E uma coisa é certa: estes dois homens sabem bem o que significa o poder deste cargo: Cavaco porque o sentiu e Soares porque o praticou. Diz o primeiro: “(…) depois de ter suportado o ónus da impopularidade provocada pelo processo de discussão e aprovação das medidas, [o Governo] via [as mesmas] serem vetadas pelo PR ou declaradas inconstitucionais por uma votação de sete contra seis juízes do Tribunal Constitucional, o que era indício de uma apreciação jurídica eivada de um certo cunho político”.4
Como frisa João Guerra, “Soares usou sucessivamente o veto a diplomas do Governo, criticou em mensagem ao parlamento a ‘governamentalização da TV’, acolheu em Belém todos os queixosos da política do Governo em nome do ‘direito à indignação’, (…) acusou o Executivo de encaminhar o país para ‘uma forma larvar de ditadura da maioria’”1, entre muitas outras acções.

O passado destes homens leva-nos a concluir que a seriedade de Cavaco sempre foi superior à de Soares e, por isso, o primeiro está em melhores condições para presidir Portugal. O problema não está tanto na idade de Soares, mas sim, “na idade das ideias que defende (…) que nada têm a ver com o futuro e, muito menos, com os portugueses”5, na sua falta de coerência e na sua atitude demasiado altiva (e muitas vezes confusa).

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1 João Guerra, Diário Económico, 20/10/05
2 Cavaco Silva, Aníbal – Autobiografia Política, Círculo de Leitores, 2002, pág. 74
3 Conferência de Imprensa de Cavaco Silva, 20/10/05, CCB
4 Cavaco Silva, Aníbal – Autobiografia Política II, Temas & Debates, 2004, pág. 416
5 Helena Matos, Público, 30/07/05