O Bom Senso no Terras do Ave

* Aqui encontra os artigos publicados no jornal vilacondense, Terras do Ave, escritos pelos autores d' O Bom Senso: Luís Soares e Nuno Miguel Santos*

Os textos são aqui publicados duas semanas após a sua publicação no jornal.

O Bom Senso

Jornal Terras do Ave

Publicado no Jornal de

15 abril, 2005

A Eutanásia e a Decadência de Valores

A polémica sobre a eutanásia voltou a fazer parte da actualidade, muito devido ao caso da norte-americana Terri Schiavo, há 15 anos em estado vegetativo persistente. Colocam-se duas questões pertinentes: o que é a eutanásia e qual a sua moralidade. Fazemos aqui um parêntesis para agradecer ao Padre Domingos o tempo que nos dispensou.

A eutanásia pode ser definida como sendo “a morte intencional de alguém que pediu para ser morto”, de forma a poupar-se a sofrimentos de agonia. No entanto, apesar de ter um cariz voluntário é, na maioria das vezes, praticada por vontade dos familiares ou por indicação médica, quando se tratam de casos irreversíveis (são exemplos desta prática a Bélgica e a Holanda, que em vez de investirem em cuidados paliativos, optaram por legalizar a eutanásia. Na Holanda há cerca de 1000 doentes por ano que não escolheram morrer mas alguém o fez por si.)

Terri Schiavo



Mas atendendo aos princípios dos direitos humanos, onde o direito à vida é a peça fundamental, já que sem ela tudo o resto não faz sentido, a prática da eutanásia é uma incongruência e representa a decadência dos nossos valores, que tantos séculos demoraram a construir.

A vida é uma fortuna que nem todos têm a felicidade de preservar. Numa altura em que a ciência permite, cada vez mais, minimizar o sofrimento do paciente e, muitas vezes, aumentar a dignidade da vida que lhe resta, é incompreensível que se coloque a prática da eutanásia como uma opção e não como algo condenável.

O que se verifica hoje é que o “facilitismo” generalizado predomina sobre os valores morais. Um caso flagrante disso mesmo é o de Terri Schiavo. Tantos gritos contra as guerras, contra o neo-colonialismo, e no momento de manter apenas uma pessoa viva, os mesmos que tanto gritaram pela paz, gritam agora pela morte.
Não é irónico? Os pais a lutarem pela vida da sua filha (salientamos também a coragem de George W. Bush quando assumiu a sua repugnância pela eutanásia, neste caso concreto), e do outro lado, um marido infiel (sim, porque não teve a valentia de se manter ao lado da sua esposa até ao fim), juntamente com um rol de imorais, a lutarem pela sua morte.

O Prior da nossa cidade afirmou que “a eutanásia insere-se dentro de um estado limite da existência humana, ,mas que contraria esse mesmo valor da vida humana sobre a qual o homem não tem [poder] – não é dono da sua vida. Questionado sobre a contradição dos que se dizem católicos mas não vivem segundo esses valores, o Prior disse que “muitas vezes as pessoas não sentem segurança nos [seus] valores e são influenciadas pelas maiorias e não tanto pelos valores em si mesmos. Em relação a casos de eutanásia em Vila do Conde, afirmou: “Sou Capelão no Hospital e nunca senti, de alguém, essa vontade.”

Tendo noção da imoralidade óbvia da eutanásia e da posição da Igreja (que só vem reafirmar essa imoralidade, embora não seja necessário praticar uma religião para se ser moral), por que é que ainda se discute esta prática em sociedades ditas desenvolvidas, no séc. XXI?

Luís Soares
Nuno Miguel Santos