O Bom Senso no Terras do Ave

* Aqui encontra os artigos publicados no jornal vilacondense, Terras do Ave, escritos pelos autores d' O Bom Senso: Luís Soares e Nuno Miguel Santos*

Os textos são aqui publicados duas semanas após a sua publicação no jornal.

O Bom Senso

Jornal Terras do Ave

Publicado no Jornal de

15 março, 2008

A Formação nas Empresas Portuguesas

Muito tem sido dito sobre a importância da educação como forma de dar resposta às elevadas exigências que hoje se colocam a cada um nós. Na verdade, também já aqui o dissemos em altura passada. Porque entendemos que este é um ponto-chave que ditará (como tem ditado até aqui) o futuro de Portugal, decidimos abordar novamente a questão – tendo como ponto de interesse as empresas portuguesas e, reduzindo o âmbito, as do concelho de Vila do Conde.

Como se disse no artigo da quinzena passada, o sector português é na sua maioria constituído por pequenas e médias empresas. Grande parte destas são empresas familiares que têm, por norma, dois destinos: (i) em regra geral, com uma duração média de 24 anos, terminam em falência; (ii) na passagem da segunda para a terceira geração de liderança sofrem uma forte reestruturação que lhes assegura a sobrevivência. Na transição do controlo da empresa do fundador para os filhos, a regra tem sido uma completa negação da educação como um pilar crucial para a continuação do negócio. Aliás, grande parte dos fundadores não tinham sequer educação superior, dadas as condições económico-sociais da altura. Como tal, as empresas familiares representam um afunilamento das oportunidades de educação, baseado na crença de que o saber de experiência feito pode ser tão simplesmente transmitido e sem ser necessária a aquisição de conhecimentos actuais e motivação/vocação para o cargo a desempenhar.
Este facto representa um entrave ao progresso: (i) não alarga os conhecimentos necessários para fazer face às exigências actuais; (ii) não permite desenvolver uma potencial rede de contactos com instituições, empresas e indivíduos; (iii) condiciona o acesso a novas tecnologias, informação e modos de operação de actividades. Por estas razões diríamos que a importância da formação nas empresas é, sem dúvidas, um factor de potencial sucesso.

Um estudo realizado a 50 gestores de empresas (familiares e não familiares) mostrou que todos eles tinham formação superior e noção da importância da mesma, que haviam sido bons alunos, que tinham experiência académica no estrangeiro, entre outras características, que marcam um perfil que não se tem incentivado em Portugal.

O país é o espelho da economia e esta o reflexo das suas empresas. Facilmente se percebe que é do progresso das empresas que se gera o progresso do país. Independentemente da função que se exerce numa empresa, a formação das pessoas é crucial à manutenção de uma competitividade sustentável. Outros países já o perceberam bem; outros ainda não. E quando dizemos países, referimo-nos obviamente às pessoas. E nestas, incluem-se também os empresários, que aqui têm um importante papel a desempenhar na promoção da formação aos seus colaboradores.

Publicado no Jornal de

01 março, 2008

O Papel do Gestor

A figura do Gestor, como hoje a concebemos, surgiu nos EUA associada à empresa moderna. E se nesse país, o Gestor é valorizado nas empresas (do Gestor de topo aos níveis intermédios da hierarquia), mas estamos tentados a dizer que na maioria das empresas portuguesas isso não acontece com a mesma dimensão.

Até ao Séc. XIX, a grande parte das empresas era de cariz familiar: pequena dimensão, meios incipientes e, como o nome indica, quase sempre propriedade de uma família. Nos EUA, à medida que as empresas foram crescendo e aproveitando economias de escala (com acesso a um mercado de grande dimensão), surgiu a necessidade de as empresas terem um Gestor (papel inicialmente desempenhado por Engenheiros). Tal facto terá acompanhado o aparecimento da “empresa moderna”: empresa de grande dimensão, com gestores assalariados, contabilidade organizada, uma hierarquia muito definida e uma gestão separada da propriedade – ou seja, os gestores deixaram de ser, regra geral, os donos da empresa.

Mas este é um retrato para os EUA. A Europa, mais concretamente, a Europa Continental, acabou por ficar estagnada e remetida, em grande parte, às empresas familiares. Como resultado, as empresas não cresceram tanto e a figura do Gestor nunca foi devidamente implementada.

Porque razão terá tal sucedido? Entre as várias explicações avançadas salienta-se: (i) uma questão natural: os EUA, comparativamente, possuem mais recursos naturais em relação à sua população; (ii) uma questão de mercado: o mercado americano é superior ao de qualquer país europeu (note-se que os EUA são um único país e na altura a Europa não era um “mercado comum” como hoje); (iii) uma questão de cultura: ter o estatuto de empresário na Europa era considerado - e talvez ainda o seja – como algo que dava prestígio e status, não havendo uma verdadeira cultura empresarial como nos EUA, onde isso é algo banal; (iv) uma questão de intervenção governamental: os governos na Europa sempre intervieram mais na economia do que nos EUA (ex.: os caminhos de ferro nos EUA surgiram da iniciativa privada e na Europa foram assegurados pelos governos); (v): ausência de tradições: nos EUA não haviam tradições como na Europa, onde por exemplo se viveu o feudalismo, tendo isso contribuído para que não houvessem entraves à mudança e ao desenvolvimento.

O grande tecido empresarial português é constituído por pequenas e médias empresas, onde ainda vigora a empresa de cariz familiar, onde os donos são, por norma, os gestores, com formação não necessariamente adequada, e expectativas de negócio muito reduzidas (normalmente, o crescimento da empresa não é um objectivo, sendo o principal o sustento da família).

Como resultado, as empresas portuguesas não se desenvolveram como seria desejado – e por conseguinte, o próprio país sofre(u) com isso. A inexistência de uma hierarquia empresarial que privilegie os gestores, como profissionais competentes para a Gestão, pode continuar a ser um condicionante à evolução. Note-se que a formação em Gestão não é condição essencial para se ser bom Gestor, mas parece-nos irrefutável que globalmente sejam dos mais capazes para o fazer. Os EUA perceberam isso por volta de 1850, tendo criado escolas de Gestão para o efeito, pelo que hoje são um exemplo de excelência na formação nessa área. E Portugal e a Europa?