O Bom Senso no Terras do Ave

* Aqui encontra os artigos publicados no jornal vilacondense, Terras do Ave, escritos pelos autores d' O Bom Senso: Luís Soares e Nuno Miguel Santos*

Os textos são aqui publicados duas semanas após a sua publicação no jornal.

O Bom Senso

Jornal Terras do Ave

Publicado no Jornal de

01 setembro, 2007

Crédito Malparado

Já não é a primeira vez que abordamos o assunto do endividamento nesta coluna de opinião. No entanto, a perspectiva que agora iremos adoptar é um pouco diferente e centra-se na falta de controlo sobre o endividamento. Hoje em dia, centenas de pessoas recebem telefonemas dos seus bancos alertando para o (possível) incumprimento das suas prestações mensais sobre a dívida. Os portugueses devem neste momento 11.871 milhões de euros à banca (dados do JN para Maio de 2007), sendo que no crédito ao consumo, o “malparado” (montante que os bancos duvidam vir a receber na totalidade) representa cerca de 446 milhões de euros.

Mas quais as razões para isto suceder com tal intensidade e frequência? Em primeiro lugar, apontamos o factor rendimento. O fraco desempenho da nossa economia leva a que muitos portugueses sejam tentados a recorrer ao crédito para obterem bens que desejam mas que estão além da sua capacidade financeira. A verdade é que a maioria dos nossos congéneres europeus está em condições mais vantajosas neste aspecto. No entanto, esta só é uma razão válida se aliada à falta de informação, de conhecimentos financeiros básicos, cultura e capacidade de auto-controlo (estes últimos fruto de uma educação e formação precárias). Sendo isto verdade, enfrentamos um problema estrutural que será difícil de ultrapassar a curto-prazo.

Não podemos acusar continuamente os bancos de serem os causadores desta situação, desculpabilizando sempre o devedor que se defende com a falta de informação cedida. O devedor tem o dever de perceber a informação que rodeia o seu crédito antes de aceitar qualquer contrato de dívida, estando em pleno direito de pedir qualquer informação adicional sempre que entender que isso se justifique.

Na edição do jornal acima citado havia referência a dois casos reais que ilustram bem aquilo que aqui pretendemos alertar. Um dos senhores dizia que tinha contactado uma empresa de crédito rápido por mera curiosidade e quando “deu por ela” tinha €500 na sua conta bancária, os quais a sua mulher gastou pensado que era dinheiro deles. Resultado: pagou os juros devidos e disse à empresa para nunca mais lhe ligar...

Um outro indivíduo queria fazer obras na sua casa recorrendo a um crédito conjunto. No entanto, quando se informou no banco “reparou” que as suas dívidas já tinham atingido um montante tal que teve de cancelar as férias e planos de consumo para os meses seguintes; além de não ter feito obras algumas... [os resumos das duas histórias estão de acordo com o original, exceptuando as reticências.]

O descontrolo e a informação insuficiente estão bem marcados no comportamento financeiro dos portugueses. Enquanto não mudarmos esta atitude, continuaremos “a assobiar para o lado” como se não tivéssemos qualquer responsabilidade na matéria. Talvez isto só acabe quando o crédito “malparado” apanhar multa.