O Bom Senso no Terras do Ave

* Aqui encontra os artigos publicados no jornal vilacondense, Terras do Ave, escritos pelos autores d' O Bom Senso: Luís Soares e Nuno Miguel Santos*

Os textos são aqui publicados duas semanas após a sua publicação no jornal.

O Bom Senso

Jornal Terras do Ave

Publicado no Jornal de

01 julho, 2006

Relato de um Jogo na Azambuja

- Boa tarde, caros leitores! Estamos aqui reunidos, nesta bela terra que é a Azambuja, para o encontro que opõe os administradores de uma empresa de automóveis aos seus trabalhadores. Está uma bela tarde, pouco calor, alguma humidade, um relvado verdejante como todos nós desejamos! E o árbitro croata, Tócrates Autoritoritch, leva o apito à boca para dar início à partida. O povo vai delirando nas bancadas com as expectativas do jogo! A claque No Name Sindicões vai gritando: “Trabalhadores despedidos jamais serão readmitidos!”. Mas a torcida dos adversários, os SuperChefões, não se fica atrás: “Azambuja, menina, nós vamos é pr’á China!”, contrapõem eles. E começa o jogo! Vitorino, que resultado antecipas?

- Bem, Abílio, não vai ser uma disputa fácil. Os trabalhadores, é certo, vão entrar duro e têm que ter cuidado porque alguns jogadores já estão amarelados. Ainda por cima o árbitro não é pêra doce!

- E vai Tó Chico pr’á desmarcação! Mas o colega de equipa, Figueiredo, perde a bola no um-para-um com Olaf Wassermann Koch. Mas atenção, meus senhores e minhas senhoras! Tó Chico continua a correr! E corre, corre, corre... Esperem, já ultrapassou a linha final, está fora de campo mas continua a correr! Isto nunca foi visto, meus amigos! Isto é futebol espectáculo, meus irmãos! Tó Chico salta a vedação e sai pelo estádio fora! Vitorino...

- Isto já era de prever; os trabalhadores não aguentam a carga emocional e esperemos que outros não optem também pelo despedimento antecipado. Iria fragilizar significativamente a ofensiva dos trabalhadores.

- O jogo continua quente, não frio, agradável. E agora é o número 10 dos administradores quem possui a bola perto da área do adversário. Finta, não finta, vai à frente, recua, dá a volta e... minha Nossa Senhora! Paredes entra de carrinho e parte as pernas a Henrique Duarte de Macedo Pinto e Costa Leite! Tócrates assinala a falta e tenta acalmar os ânimos. O povo assobia e entra a maca.

- Abílio repara neste pormenor: é que agora estão dez para dez!

- Muito bem observado, Vitorino! E o tempo passa e as coisas estão num impasse. É marcado o livre e... ripa na rapaqueca! Que lindo! É bola ó poste, é bola ó poste, meu povo!

- Granda estouro, ó meu! Que lance! Isto é digno da Champions!

- Mas esperem, Autoritorich pára tudo e marca falta! Mas o que é isto, minha gente?! Antunes, tu que estás aí em baixo, conta-nos o que se passa.

- Abílio, parece que o árbitro diz que o ataque dos administradores foi demasiado forte e que tem que haver calma. Ninguém percebe!

- Mas lá que foi um balázio daqueles, ai isso é que foi!

- Os No Name Sindicões exaltam-se e começam a insultar ainda mais o árbitro! E Vitorino, estão jogados os primeiros vinte minutos e a verdade é que não há golos.

- Sim, Abílio, e enquanto a bola não entrar numa das balizas é quase certo que a situação não se altera. Mas isto é futebol. E o futebol é assim mesmo.

- E agora, Arlindo, ponta-de-lança com 2600 parafusos atarraxados na época transacta está completamente isolado! E vai, e vai, e vai, e... foi-se! Levou um chega para lá de Albuquerque Lima e Sá que entrou com tudo! Vitorino, que te parece?

- Isto para mim é falta, meu amigo! Sem a menor margem para dúvidas!

- Obrigado, Vitorino. Mas o árbitro, além de marcar falta, parece estar a massajar o próprio jogador! Inacreditável! Inacreditável!!!

- Abílio, aqui do relvado, ouve-se os No Name Sindicões gritarem que querem uma intervenção mais forte de Tócrates! Dizem que as massagens não chegam e pedem a punição do comportamento dos administradores! Só visto!

- Antunes tem cuidado! Há invasão de campo! Os Sindicões quebram a vedação e atropelam-se na corrida para espancar o árbitro! É um assombro! Vitorino.

- Pois é, Abílio! E que vista da invasão se tem daqui! O futebol tem disto, colegas!

- Há dias e dias, e hoje Tócrates não está num dos seus. Também os SuperChefões entram em campo e instala-se o pandemónio!

- Cruzes, isto é pancadaria da velha!

- É certo! E Tócrates corre como nem Tó Chico o fez e escapa-se do Estádio! No entanto, parece que as partes estão dispostas a dar continuidade ao jogo mesmo sem o árbitro. Os adeptos voltam aos seus lugares e a partida recomeça!

- Isto sim, ó Abílio, isto é que é Fair Play!

- Jaime prossegue com a bola e o jogo parece estar muito mais saudável sem Tócrates a intervir! As equipas jogam livremente e, embora cada uma procure vencer, penso que agora é possível chegar a um resultado justo. Vitorino.

- Sim Abílio, a saída do árbitro acabou, sem dúvida, por dar outro andamento a este jogo.