O Bom Senso no Terras do Ave

* Aqui encontra os artigos publicados no jornal vilacondense, Terras do Ave, escritos pelos autores d' O Bom Senso: Luís Soares e Nuno Miguel Santos*

Os textos são aqui publicados duas semanas após a sua publicação no jornal.

O Bom Senso

Jornal Terras do Ave

Publicado no Jornal de

15 junho, 2006

O Melhor Gestor do Mundo Em Portugal

No final do passado mês de Maio, Jack Welch, ex-CEO (Gestor Executivo) da norte-americana General Electric e considerado pela revista Fortune o ‘gestor do séc. XX’, veio a Portugal participar numa conferência sobreOs Desafios das Empresas e da Economia Portuguesa no Contexto Competitivo Actual” onde alertou que: “Portugal é visto no estrangeiro como um país em contínua degradação e declínio ao longo dos últimos anos.”

“Nada de novo”, disseram alguns, “mais um estrangeiro que vem para aqui mandar ‘bitaites’ sobre o país dos outros!” O certo é que Welch, actualmente com 70 anos, pôs o dedo na ferida que nós persistimos em fazer de conta que não nos dói. E, em vez de procurarmos um remédio para ela, insistimos teimosamente em esperar que outros o façam por nós. Bem ao nosso costume.

Em editorial no Jornal de Negócios, o director Sérgio Figueiredo afirma: “É bem conhecida a política de diferenciação que [Jack Welch] criou na GE para medir o desempenho de todos os trabalhadores e gestores. Eles eram arrumados em três classificações possíveis. No topo, cabiam 20%, no nível intermédio, a maioria, 70%. Os restantes 10% sabiam, de antemão, que só tinham duas opções: ou subiam ou subiam. Cruel? Impossível na nossa cultura.”

E, de facto, o que fazemos nós? Obrigamos os “de topo” – como se fossem homens a abater – a procurarem emprego no estrangeiro, criando riqueza noutros países que não o nosso. Porquê? Simplesmente porque não criamos as condições necessárias ao surgimento de oportunidades para que eles possam desenvolver as suas capacidades, nem lhes proporcionamos os mesmos níveis de rendimento de outros países (não nos esqueçamos que vivemos num mercado de trabalho comum e livre na UE). Enquanto Portugal não conseguir fomentar uma política de mérito e inovação, continuaremos atrasados em relação aos demais países. Por outro lado, impõe-se perguntar: “homens a abater”, porquê? A resposta está longe de ser consensual. Basta dizer que temos por hábito nivelar tudo e todos por baixo, o que para a maioria pode ser “bom” (já que fomenta a igualdade para um nível intermédio), mas não o é para os “de topo” que, pelo seu mérito e trabalho, se vêm constantemente atacados. Enquanto mantivermos uma certa pequenez, mediocridade e mesquinhice, Portugal continuará a ser mal visto aos olhos dos países estrangeiros, como actualmente. “Os indicadores que vi mostram que Portugal está em declínio há dez anos. O país está a afundar-se. É humilhante. Vocês deviam estar envergonhados”, afirmou peremptoriamente Welch, que não se coibiu de acrescentar: “A sociedade (portuguesa) precisa de uma liderança que cause choque. Façam uma comparação honesta com Espanha, Eslováquia, Irlanda. Promovam um debate nacional.”

Um dos pontos também realçados na sua intervenção, sobre o que deve mudar em Portugal, foi o empreendedorismo e a iniciativa individual. Sabemos que estas são necessidades continuas para se sustentar a competitividade e aumentar a riqueza produzida, de modo a melhorar o nível de vida dos indivíduos. Todavia, para que haja uma mudança nos padrões de iniciativa individual é primordial que haja uma evolução na cultura da nossa sociedade. Essa evolução só será possível com verdadeiro investimento na educação dos mais jovens e na formação dos mais velhos.

Jack Welsh avisa: “Portugal precisa de um grande abalo”. E, como se costuma dizer, quem te avisa, teu amigo é...